Certos livros de Alberto Moravia, o grande escritor italiano nascido em Roma em 1907, colocam-se, no conjunto de sua vasta obra, como síntese de um período. Assim foi com "Os Indiferentes"(
1929), amarga reflexão sobre toda a carga de hipocrisia e convenção que marcaram o regime fascista, enquanto os contos surrealistas e "O Conformista" (1952), "eram produtos dos piores anos de minha vida", a década sequinte, cheia de hostilidade e polêmica contra a cultura vigente. Depois vem o período romano, com os famosos contos e " A Romana" (1947), seguidos por suas experiências neo-realistas e "Duas Mulheres" (1957), e finalmente " O Tédio" (1960), e " A atenção" (1965), que resumem o estado psicológico e moral do intelectual italiano dos anos sessenta: o problema da alienação que volta, fortalecido pela vasta difusão da tese marxista e a descoberta da verdade de um eros freudiano que passa a provocar profundas modificações nas relações sociais. Nessa linha psicanalítica surgem seus experimentos de uma dessacralização radical com "Eu e Ele" (1971), e " Desideria" ( 1978).
Este seu último livro, " A Coisa e outros contos" (1983), pode ser considerado novamente o somatório de uma época. Além dos detalhes de uma refinada abordagem psicanalítica ( " O Cinto", "A Mulher de capa preta", " As mãos em volta do pescoço"), o escritor penetra agora nos meandros da danação ( "A coisa" , " O diabo vai e vem" , " O sinal da operação" ) para deter-se numa reflexão política ( "O trovão revelador ", "Há uma bomba n também para formigas") e social ( " Gaguejeira a vida inteira") e até mesmo metafísica, (" Um terrível bloqueio da memória" , " Ouço sempre em sonho um passo na escada") quanto aos destinos da humanidade, sobressai nestas reflexões de extrema atualidade e nessa atmosfera quente e sensual criada pela válvula de escape do sexo, o grande estilo de Moravia que os tradutores tentaram recriar sempre que possível e que nos dá páginas de delicadeza de " Havia um cesto no Lungotevere" ou da tensão erótica quase brutal de " O diabo não pode salvar o mundo".
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