"Quem não interpreta o que lê, além de fazer alarde daquilo que julga ter assimilado, não entende o que diz."
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Enterrem Meu Coração na Curva do Rio.

A dramática historia dos índios norte-americanos.

O mais pungente relato da agonia de uma raça.

"estarrecedor, arrasante...Nos perguntamos, ao ler este livro emocionante: quem, na verdade, eram os selvagens?"
                                                 The Washington Post.

"Original, memorável e comovedor...Impossível largar."
                                                    The New York Times.

Enterrem meu coração na curva do rio,é o eloquente e meticuloso relato da destruição sistemática dos índios da América do Norte. Lançando mão de várias fontes, como registros oficiais, autobiografias, depoimentos e descrições de primeira mão, Dee Brown faz grandes chefes e guerreiros das tribos Dakotas, Ute, Sioux, Cheyenne e outras contarem com suas próprias palavras sobre as batalhas contra os brancos, os massacres e rompimentos de acordos. Todo o processo que, na segunda metade do século XIX, terminou por desmoralizá-los, derrota-los e praticamente extingui-los.
 Publicado originalmente em 1970, este livro foi traduzido para dezessete línguas e vendeu quatro milhões de copias.
Com ele, Dee Brown, um dos maiores especialistas em história norte-americana, mudou para sempre o modo do mundo ver a conquista do Velho Oeste e a história do extermínio dos peles-vermelhas.

"Nada dura muito tempo, só a terra e a montanhas." Antílope Branco. Chayennes.

Embora este pais fosse outrora habitado por índios, as tribos, e muitas delas poderosas, que há tempos ocupavam os territórios que agora constituem os Estados a leste do Mississípi têm sido, uma a uma exterminadas em suas tentativas fracassadas de deter a marcha ocidental da civilização...Se qualquer tribo protesta contra a violação de seus direitos naturais e dos tratados, membros dessa tribo são abatidos desumanamente e o resto é tratado como simples cães... Seria de imaginar que a humanidade presidisse a politica original da remoção e concentração dos índios do Oeste, para preserva-los da ameaça da extinção. Mas hoje, em razão do imenso aumento da população americana e a extensão de suas colônias por todo o Oeste, cobrindo ambos os lados das Montanhas Rochosas, os povos índios estão mais gravemente ameaçados por um extermínio rápido do que nunca, antes, na historia do país.
Donehogawa (Ely Parker), o primeiro comissário índio de Assunto Índios.

Onde estão hoje os Pequots? Onde estão os Narragansetts, os Moicanos, os Pokanokets e muitas outras tribos outrora poderosas de nosso povo? Desapareceram diante da avareza e da opressão do "Homem Branco", como a neve diante de um sol de verão. Vamos nos deixar destruir, por nossa vez, sem lutar, renunciar a nossas casas, a nossa terra dada pelo Grande Espirito, aos túmulos de nossos mortos e a tudo que nos é caro e sagrado? Sei que vão gritar comigo: "Nunca, Nunca!"
Tecumseh. Dos Shawneess.

Dos 3,7 milhões de búfalos exterminados de 1872 a 1874, só 150 mil foram mortos pelos índios. Quando um grupo de preocupados texanos perguntou ao general Sheridan se nada iria ser feito para deter a matança indiscriminada dos caçadores brancos, ele respondeu: "Deixem-nos matar, esfolar e vender até que o búfalo tenha sido exterminado, pois esse é o único modo de conseguir paz duradoura e permitir à civilização progredir." Os Kwahatis livres não queriam participar de uma civilização que progredia com o extermínio de animais úteis.

Tenho vergonha de me dizer um Sioux. Ontem, setecentos de nossos melhores guerreiros foram aniquilados pelos brancos. Agora o melhor que nos resta a fazer é fugir correndo e nos espalhar pelas planícies como búfalos e lobos, é verdade que os brancos tinham armas melhores do que as nossas, e eram em numero muito maior. Mas isso não é razão para não os termos abatidos, pois somos Sioux corajosos e os brancos são mulheres covardes. Não consigo explicar a infame derrota. Deve ser obra de traidores entre nós.
Corvo Pequeno.

Nunca fizemos mal algum ao homem branco, não queremos isso...Desejamos ser amigos do homem branco...Os búfalos estão diminuindo depressa. Os ancilopes, que eram muitos há poucos anos, agora são poucos. Quando morrerem todos, ficaremos famintos; vamos querer algo para comer e seremos obrigados a ir ao forte. Seus jovens não devem atirar em nós; em toda parte onde nos veem atiram, e atiramos neles.
Tonkahaska. (Touro-Alto) ao general W. S. Hancook.

Autor: Dee Brown.
Gênero: história sobre o genocídio dos Índios Norte Americano.
Editora: Coleção L&PM
Ano: 2011. Paginas: 456.

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A Elite do Atraso.

Da escravidão à lava Jato #farsaJato
Um livro que analisa o pacto dos donos do poder para perpetuar uma sociedade cruel forjada na escravidão.
Ideias velhas nos legaram o tema da "Corrupção dos Tolos" só da política, como nosso grande problema nacional. Na corrupção real, no entanto, o problema central - sustentado por outras forças - é a manutenção secular de uma sociedade desigual, que impossibilita o resgate do Brasil esquecido e humilhado. São essas forças e sua agenda oculta que este livro pretende revelar: a nossa elite do atraso.
Depois da polêmica intelectual aberta pela obra A Tolice da inteligência brasileira e da contundência exposta em A radiografia do golpe, o sociólogo Jessé Souza descortina de maneira criativa e consistente o papel de nossas elites - do Brasil dos tempos da escravidão ao país da operação Lava Jato. O resultado é um livro surpreendente, forte, inovador, crítico na essência, com um texto aguerrido na forma e no conteúdo e leitura acessível. A elite do atraso mostra o pacto construído e sedimentado pelos donos do poder para perpetuar uma sociedade excludente e perversa, forjada ainda na escravidão.

"Quem controla a produção das idéias dominantes controla o mundo. Por conta disso Também, as ideias dominantes são sempre produto das elites dominantes. É necessário, para quem domina e quer continuar dominando, se apropriar da produção de ideias para interpretar e justificar tudo o que acontece no mundo de acordo com seus interesses."

 A Elite do Atraso - Da Escravidão á Lava Jato. é uma resposta crítica do sociólogo Jessé Souza a um Clássico: Raízes do Brasil, do historiador Sérgio Buarque de Holanda, publicado em 1936 e eternizado por incontáveis intelectuais de todas as colorações ideológicas e partidárias. Todas as nossas elites universitárias foram formadas, na direita e na esquerda, por essa leitura, antes incontestada, do Brasil. Este livro é uma leitura crítica contra a interpretação dominante do país e de suas mazelas, difundida em "pilulas diárias" também pela mídia.
 Do "homem cordial" de Sérgio Buarque aos "donos do poder" de Raymundo Faoro., da visão de Estado corrupto e patrimonial á qual Fernando Henrique Cardoso se alinhou á figura do "jeitinho brasileiro" interpretada por Roberto DaMatta essa leitura ajudou a sedimentar a síndrome de vira-lata do brasileiro e a espalhar a ideia de que a corrupção política é o grande problema nacional - um problema que teria sido herdado especialmente de nossa formação ibérica. Daí o sucesso da operação lava jato numa sociedade ansiosa por remover os males instalados no Estado brasileiro.
 Essa é uma falsa ideia, diz Jessé Souza numa obra que reúne a revisão conceitual e acadêmica, o sociólogo lembra que A Raízes do Brasil é fundamental para entender o país da lava jato ou farsa a jato. A "limpeza da política" do procurador deltan dallagnol e do juiz sérgio moro, afirma Jessé, se legitima com Sergio Buarque e seus epígonos; a mídia (e em particular a Rede Globo) legitima sua violência simbólica do mesmo modo.
Para desconstruir essa legitimação "naturalizada" ao longo de décadas, A Elite do Atraso ataca três eixos bem definidos. Primeiro, toma a experiência da escravidão, e não suposta e abstrata continuidade com Portugal e seu "patrimonialismo", como a semente da sociedade desigual, perversa e excludente do Brasil. Segundo analisa como a luta de classes por privilégios construiu alianças e preconceitos que esclarecem o padrão histórico repetido nos embates políticos do Brasil moderno.
(Aqui o autor olha também a cultura, incluindo laços familiares e afetivos, e não apenas as relações econômicas, para compreender as diferentes classes sociais e explicar o nosso comportamento real e prático no dia a dia) Terceiro, Jessé faz o diagnóstico do momento atual, batendo forte no que chama de conluio entre a grande mídia e a lava jato.
 A Elite do Atraso é um livro para ser apoiado, debatido ou questionado. Mas será impossível reagir de maneira indiferente á leitura contundente de Jessé Souza aos nossos cânones acadêmicos e midiáticos.

"Estamos nos especializando em perseguir por métodos jurídicos pouco ortodoxos os suspeitos da "Corrupção dos Tolos" enquanto a corrupção real, do conluio entre mercado, mídia e corporações juridico - polícias do Estado, pode passar impune."

"Todo o esquema que operou no recente "Golpeachment" de 2016 já estava armado desde o segundo governo Vargas. Muito especialmente o tema da corrupção seletiva passa a ser usado sistematicamente já contra Getúlio Vargas com retumbante sucesso. Carlos Lacerda (O Corvo) e toda a mídia conservadora cerram fileiras e provocam comoção popular já se utilizando de dispositivos que hoje são conhecidos como pós-verdade, ou seja, a construção de versões sem prova com o intuito de produzir determinado efeito difamatório. Mesmo que a mentira se revele enquanto tal mais tarde, seu efeito destrutivo já foi realizado. O suicídio de Vargas a partir de comprovadas inverdades ditas contra ele mostra a eficácia do esquema." 

"O ódio fomentado todos os dias ao PT e a Lula produziu, inevitavelmente, Bolsonaro e sua violência em estado puro, agressivamente burra e covarde. Agora, uma população pobre à mercê de demagogos religiosos está minando as poucas bases civilizadas que ainda restam à sociedade brasileira. Essa dívida têm que ser cobrada da mídia que cometeu esse crime." 

"A esperança de hoje tem que ser uma adaptação contemporânea do velho chamado aos exploradores: Os feitos e imbecis de todo o país: uni- vos! Recuperemos nossa inteligência, voltaremos a praticar a reflexão autônoma que é a chave de tudo que a raça humana produziu de bonito e de distinto na vida da espécie. Afinal, tudo que foi feito por gente também pode ser refeito por gente."

"A elite não odeia os pobres, ela tem uma indiferença blasé, quer o dinheiro dela e pronto. Mas uma parte da classe média tem, sim, uma relação de ódio com om pobre."

"É necessário aprender com a nossa catástrofe que é recorrente. As falsas idéias existem para fazer as pessoas de tolas, posto que apenas os feitos de tolos dão de bom grado e volitivamente o produto de seu esforço a quem os engana e oprime. Sem uma crítica das idéias, não existe prática social verdadeiramente nova. A ideia central que nos faz de tolos é a de que nossa história e a história de nossas mazelas têm sua raiz no patrimonialismo só do Estado. Foi por conta dela que a Rede Globo e a Lava Jato legitimaram seu ataque combinado à economia e à sociedade brasileira."

Autor: Jessé Souza. (Sociólogo,  Filosofo)
Editora: Leya
Gênero: história, ciências sociais, economia.
Ano: 2017 Paginas: 239.

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Nada de Novo no Front.

Erich Maria Remarque, nasceu em Osnabruck, Alemanha a 22 de junho de 1898, e morreu em Locarno, Suíça, a 25 de setembro de 1970. Realizou os estudos básicos em sua cidade natal, frequentando depois a Universidade de Munster, interrompendo os estudos aos dezoito anos, participou ativamente da Primeira Guerra Mundial, sendo ferido três vezes, uma delas gravemente. Após o conflito, lutando para sobreviver num país completamente corroído pela guerra, exerceu diversas profissões: foi mestre-escola, pedreiro, organista, motorista, agente de negócios critico de teatro etc. Os empregos se sucederam até que um dia decidiu escrever, produzindo pequenos artigos, ora aceitos, ora recusados pelos jornais. Conseguiu trabalho em alguns periódicos de Hanôver e Berlin, mas não esqueceu o pesadelo da guerra. Suas noites de insônia são preenchidas por infindáveis cadernos onde anota os horrores que viveu. Em breve descobre naquelas folhas manuscritas o núcleo de um livro- um romance sobre a guerra. A editora Ullstein insiste no lançamento da narrativa, mas o máximo que consegue é sua publicação em folhetins no jornal Vossiche Zeitung. Publicado como livro pela primeira vez em 1929, Nada de Novo no Front (Im Westen Nichts Neues) deixa o publico e as autoridades alemãs totalmente perplexos, Objeto de criticas, polemicas e discussões, o romance de Remarque mostra - a um público que ainda considerava a guerra como uma fatalidade histórica cercada por um elo de romantismo heroico - a verdadeira face dos soldados que nela se envolveram.
Certamente não eram guerreiros, como os que apareciam nos filmes de propagandas, mas homens maltrapilhos, neuróticos e assustados.
Traduzido em varias línguas, o romance ganhou o mundo sendo levado à tela em 1930. Em 1931, Erich M Remarque iniciou a publicação também em folhetim, de O Caminho de Volta (Der Weg Zuruck), onde retrata as frustrações dos que regressavam das frentes de luta. Em 1933, perseguido pelos nazistas por causa do pacifismo manifesto em suas obras, exilou-se primeiro na Suiça e depois nos EUA, onde escreveria outros livros de sucesso sobre o absurdo da guerra; Três Camaradas (Three Comrades 1937), Náufragos,(Flotsam,1941), Arco do Triunfo (Arch of Triump,1946). Deixou também um romance póstumo, Sombras do Paraíso (Schatten in Paradies, 1971).

"Se todos os exércitos tivessem soldo igual e igual comida, a guerra seria depressa esquecida."

                                                                Trecho:
Durante o dia, a atmosfera está carregada de ameaças. Há um boato de que o inimigo vai apoiar os ataques da artilharia com tangues e aviões. Mas isto nos interessa menos do que o que se comenta sobre os novos lança chamas.
 Acordamos no meio da noite. A terra ribomba, por cima de nós um terrível bombardeio.
 Agachamo-nos pelos cantos. conseguimos distinguir projeteis de todos os calibres.
 Cada um apalpa seus pertences para assegurar-se, a todo momento, de que continuam ali, à mão. O abrigo estremece, a noite parece feita de rugidos e clarões. Nos lampejos momentâneos, entreolhamo-nos e, com rostos pálidos e lábios apertados, sacudimos as cabeças.
 Todos sentem como na própria carne os projeteis da artilharia pesada destruírem os parapeitos das trincheiras, enterrarem-se nas depressões e despedaçarem os blocos superior de concreto. As vezes, o estrondo é mais surdo e mais violento, como uma fera que ruge, quando a granada acerta na trincheira. De manhã, alguns recrutas estão lívidos e vomitam. São ainda muito inexperientes...

Nossa exaustão é tanta, que apesar da terrível fome, nem pensamos nos enlatados. Só pouco a pouco vamos transformando novamente em algo parecido com seres humanos...

Vemos homens ainda vivos que não têm mais a cabeça; vemos soldados que tiveram os dois pés arrancados andarem, tropeçando nos cotos lascados até o próximo buraco; um cabo arrasta-se dois quilômetros de quatro, arrastando atrás de si os joelhos esmagados; outro, chega até o Posto de Primeiros Socorros e, por sobre as mãos que os seguram, saltam os intestinos. Vemos homens sem boca, sem queixo, sem rosto; encontramos um homem que, durante duas horas, apertava com os dentes a artéria de um braço, para não ficar exangue. O sol se põe, vem a noite, as granadas assobiam, a vida chega ao fim...

Autor: Erich M. Remarque.
Editora: Abril.
Gênero: Primeira Guerra Mundial.
Paginas: 231.
Ano: 1981.

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Infância...

Publicado em 1945, Infância é uma autobiografia de Graciliano Ramos que prova ser possível uma obra somar os elementos pessoais com os sociais. Muito do que o autor confessa em suas memórias são problemas que afetaram não só a ele mesmo, mas também o seu meio. Sua dor é também a dor de nosso mundo. Este livro pode ser lido como romance, um conjunto de contos, e como elaboração ficcional de elementos da memória biográfica do autor. Considerando como unidade, contempla um período de amadurecimento da criança exposta como protagonista. Além disso, esse livro lida com elementos que nos fazem entendê-lo como base de todo o universo literário do autor. Nele vemos temáticas que vão povoar suas obras-primas: São BernardoVidas Secas e Angústia.
Em toda a narrativa de Infância, a criança, Graciliano, passa por um processo de aprendizagem e amadurecimento interior, principalmente ao aprender lidar com as perdas e as dores. O momento de descoberta da leitura surge de forma mágica e prazerosa. O livro torna-se um “objeto de desejo” ao ser proibido, pois desperta curiosidade.
No que diz respeito à linguagem, já é lugar-comum da crítica afirmar que Infância é o livro mais bem escrito de quantos realizou Graciliano Ramos, uma vez que aí estariam combinadas a concisão lingüística – marca inconfundível do autor – e um intenso lirismo, dificilmente encontrado em seus demais textos. Sem se esgotar, a luta sôfrega que o escritor sabidamente empreendeu com a língua parece aqui alcançar um ponto de equilíbrio, no qual a palavra flui mais natural (menos torturada), e seu potencial expressivo eleva-se enormemente, alcançando muitas vezes o poético.
Em Infância as fronteiras entre o tecido ficcional e referencial se misturam na tessitura narrativa, pois o sujeito empírico recria o passado e procura dar-lhe sentido. O passado do menino entre os seus familiares, principalmente no convívio como os pais e os irmãos, surge através do resgate da memória do escritor adulto. Ao descrever a insignificância do homem frente às circunstâncias da vida, o narrador apresenta-nos o primeiro contato da criança com as letras, descrevendo a experiência árdua que ela teve com as “malditas letras”; entretanto, o prazer de “decifrá-las só acontece na vida da criança quando o texto se torna “objeto proibido” que seduz e desperta curiosidade e interesse.
Na obra pode-se perceber uma nuance particular da junção ética/estética que promove a obra do autor de Insônia: além de dar visibilidade e voz aos seres marginalizados que habitam seus textos, como ocorre na maior parte de seus romances e, via de regra, é um procedimento associado ao posicionamento político do escritor, aqui Graciliano Ramos parece dar um passo a mais, ao abrir espaço e manifestar simpatia não só pelos oprimidos, mas também por aqueles que, circunstancialmente, oprimem. Perpassa o livro um desejo profundo de compreensão do outro, desejo que luta contra mágoas e preconceitos bastante arraigados. Ainda que o traço crítico do autor se mantenha constante, não o deixando deslizar para uma atitude compassiva para com o que relata, o resultado dessa mistura de denúncia e compreensão é uma obra ambígua, aberta: a um só tempo dura e terna.
O primeiro aspecto que chama a atenção é a descrição de Graciliano como uma criança oprimida e humilhada, pois é um ser fraco diante de adultos, mais fortes. Este é um dos cernes de sua visão de mundo: a opressão. Quem tem poder, naturalmente massacra, sufoca.

Autor: Graciliano Ramos.
Editora: Record.
Gênero; Romance.
Ano: 1994.
Paginas:269.

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Clara dos Anjos.

Concluído em 1922, ano da morte de Lima Barreto, o romance Clara dos Anjos é uma denúncia áspera do preconceito racial e social, vivenciado por uma jovem mulher do subúrbio carioca.
O Realismo-naturalismo, que tanto influenciou Lima Barreto na composição de Clara dos Anjos, é cientificista e determinista, considerando que as ações humanas são produtos de leis naturais: do meio, das características hereditárias e do momento histórico. Portanto, os romances naturalistas procuravam, através da representação literária, demonstrar teses extraídas de teorias científicas. Para isso, o Naturalismo buscou compor um registro implacável da realidade, incluindo seus aspectos repugnantes e grotescos. São exatamente esses os aspectos que mais chamam à atenção na narrativa exagerada de Clara dos Anjos.

Em Clara dos Anjos relata-se a estória de uma pobre mulata, filha de um carteiro de subúrbio, que apesar das cautelas excessivas da família, é iludida, seduzida e, como tantas outras, desprezada, enfim, por um rapaz de condição social menos humilde do que a sua. É uma estória onde se tenta pintar em cores ásperas o drama de tantas outras raparigas da mesma cor e do mesmo ambiente. O romancista procurou fazer de sua personagem uma figura apagada, de natureza "amorfa e pastosa", como se nela quisesse resumir a fatalidade que persegue tantas criaturas de sua casta.
O romance passa-se no subúrbio carioca e Lima Barreto descreve o ambiente suburbano com riqueza de detalhes, como os vários tipos de “casas, casinhas, casebres, barracões, choças” e a vida das pessoas que ali vivem.
Clara engravida e Cassi Jones desaparece. Convencida pela vizinha, dona Margarida, que procurara na tentativa de conseguir um empréstimo e fazer um aborto, ela confessa o que está acontecendo à sua mãe. É levada a procurar a família de Cassi e pedir “reparação do dano”. A mãe do rapaz humilha Clara, mostrando-se profundamente ofendida porque uma negra quer se casar com seu filho. Clara “agora é que tinha a noção exata da sua situação na sociedade. Fora preciso ser ofendida irremediavelmente nos seus melindres de solteira, ouvir os desaforos da mãe do seu algoz, para se convencer de que ela não era uma moça como as outras; era muito menos no conceito de todos.”
O autor representa, na figura de Clara e no seu drama, a condição social da mulher, pobre e negra, geração após geração. No final do romance, consciente e lúcida, Clara reflete sobre a sua situação:
“O que era preciso, tanto a ela como às suas iguais, era educar o caráter, revestir-se de vontade, como possuía essa varonil Dona Margarida, para se defender de Cassi e semelhantes, e bater-se contra todos os que se opusessem, por este ou aquele modo, contra a elevação dela, social e moralmente. Nada a fazia inferior às outras, senão o conceito geral e a covardia com que elas o admitiam...”
E, na cena final, ao relatar o que se passara na casa da família de Cassi Jones para a sua mãe, conclui, em desespero, como se falasse em nome dela, da mãe e de todas as mulheres em iguais condições: “— Nós não somos nada nesta vida.”

Autor: Lima Barreto.
Editora: Editora Ática.
Gênero: Romance.
Ano:1971.
Paginas: 150.

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A Revolução dos Bichos.

 Cansados da exploração a que são submetidos pelos humanos, os animais da Granja do Solar rebelam-se contra seus donos e tomam posse da fazenda, com o objetivo de instituir um sistema cooperativo e igualitário, sob o slogan "Quatro pernas bom, duas pernas ruim".
 Mas não demora muito para que alguns bichos-em particular os mais inteligentes, os porcos- voltem a usufruir de privilégios, reinstituindo aos poucos um regime de opressão, agora inspirado no lema "Todos os bichos são iguais, mas alguns bichos são mais iguais que os outros". A história da insurreição libertária dos animais é reescrita de modo a justificar a nova tirania, e os dissidentes desaparecem ou são silenciados a força.
 Instrumentalizada na época da Guerra Fria como arma anticomunista, A Revolução dos Bichos transcende os marcos históricos da ditadura stalinista que a inspirou e resplandece hoje, passado mais de sessenta anos de seu surgimento, como uma das mais extraordinárias fábulas sobre o poder que a literatura já produziu. 
 A Revolução dos Bichos é um livro de extrema importância para entendermos o funcionamento de sociedades comandadas por diferentes tipos de governo, além de mostrar de forma genial a ambição do ser humano, o "sonho do poder".
 O Senhor Jones era o dono da Granja e, como tal, explorava o trabalho animal em benefício próprio, para acumular capital. Em troca dos serviços prestados, ele pagava com a alimentação, que nem sempre era boa e suficiente. Temos aí o retrato de uma sociedade capitalista: quem mais trabalha é quem menos ganha.
 A Revolução que se deu por idéia do "Major", tinha por princípio básico a igualdade; sendo assim, o Animalismo corresponde ao Socialismo, regime em que não existe propriedade privada e em que todos são iguais, e todos trabalham para o bem comum.
 A princípio, houve um socialismo democrático, em que todos participavam de assembléias, dando idéias e sugestões, liderados por Bola-de-Neve, bem aceito pelos animais em geral. Napoleão representa o desejo da onipotência, do poder absoluto e, para conseguir seus objetivos, tudo passa a ser válido: mentiras, traições, mudanças de regras.
 Tempos depois instaurava-se na Granja uma verdadeira Ditadura, o regime em que não há liberdade de expressão, direito a opiniões etc. Na sede pelo poder e pela riqueza, Napoleão entra em contato com os homens para com eles negociar, comprar, vender, enfim, acumular riquezas e tudo graças ao trabalho dos animais, verdadeiros empregados mal – remunerados, ajudando o "patrão" a ter regalias, bens materiais, capital.
  A situação fica mais crítica do que quando Jones era o dono da Granja porque, mais do que nunca, os direitos humanos, ou seja, dos animais foram violados de forma cruel e tendo conseqüências gravíssimas como a morte de alguns, o desaparecimento de outros e muita tortura.
  Com base nos fatos ocorridos podemos concluir que a história nos mostra os dois tipos de dominação existentes – a dominação pela sedução: Garganta persuadia os animais com seus argumentos convincentes e eles aceitavam pacificamente as mudanças efetuadas, e a dominação pela força bruta: quem se rebelasse contra as ordens era punido fisicamente, torturado por cães treinados e levados até à morte. A história, desde a expulsão de Jones até a "transformação completa de Napoleão em "humano" durou aproximadamente 6 anos. Na Granja do Solar, situada perto da cidade de Willingdon (Inglaterra), viviam bichos, que como dono tinham o Sr. Jones. O Velho Major (porco) teve um sonho, sobre uma revolução em que os bichos seriam auto-suficientes, sendo todos iguais. Era o princípio do Animalismo. O Major morreu, mas mesmo assim os animais colocaram em prática a idéia do líder, fazendo a Revolução dos Bichos.
 Depois da Revolução, a Granja passou a se chamar Granja dos Bichos, e quem a administrava era Bola-de-Neve (porco). Bola-de-Neve seguia os princípios do Animalismo, e mesmo sendo superior (em quesitos de inteligência e cultura) em relação aos outros animais, sempre se considerou igual a todos, não tendo privilégios devido à sua condição.
Bola-de-Neve tinha um assistente, Napoleão (porco), que na ânsia pelo poder, traiu o amigo, assumindo a administração da Granja. Napoleão mostrou-se competente e justo no começo, mas depois passou a desrespeitar os SETE MANDAMENTOS, os quais firmavam as idéias animalistas. Depois de aproximadamente 5 anos, Napoleão já ocupava a casa do Sr. Jones, bebia álcool, vestia as roupas do ex-dono, andava somente sobre duas pernas e convivia com seres humanos, enfim agia em benefício próprio, instalando um regime ditatorial, dominando e hostilizando os demais animais, considerados seres inferiores e sem direitos. Por essa época, já não era possível distinguir, quando reunidos à mesa, o porco tirano e os homens com quem se confraternizava. Napoleão conseguiu sair vitorioso graças à ajuda de Garganta, porco servil e obediente e que, através de bons argumentos, convencia os animais de que tudo o que acontecia era para o bem deles.
 Qualquer coisa que ande sobre duas pernas é inimigo; Qualquer coisa que ande sobre quatro pernas, ou tenha asas, é amigo; Nenhum animal usará roupas; Nenhum animal dormirá em cama; Nenhum animal beberá álcool; Nenhum animal matará outro animal; Todos os animais são iguais. Napoleão, aos poucos, alterou todos os mandamentos. Foi Bola-de-Neve quem escreveu os SETE MANDAMENTOS.

Autor: George Orwell.
Gênero: Ficção Inglesa, Politica.
Editora: Companhia das Letras.
Paginas: 147. 
Ano: 2007.

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Guerra e Paz. Adaptação de Silvana Salerno.

O enredo deste clássico da literatura russa se passa durante a campanha de Napoleão na Áustria, e descreve a invasão da Rússia pelo exército Francês e a sua retirada, compreendendo o período de 1805 a 1820.
 O jogo da política, as intrigas da corte, as tramas da sociedade, as táticas da nobreza arruinada, a brutalidade da guerra, sua banalidade e seus acasos...Os bastidores do poder são desvendados em GUERRA E PAZ.

 Este painel da aristocracia russa só é tão profundo e verdadeiro porque foi escrito por alguém de dentro dela. As duas principais famílias retratadas - Rostov e Bolkonski-representam as famílias Tolstói e Volkonski, respectivamente do pai e da mãe do autor, Liev Tolstói. GUERRA E PAZ retrata ainda o preconceito e a hipocrisia da nobreza, e também suas tradições religiosas, ao lado da vida cotidiana dos soldados e dos servos.

 Ambientado na Rússia do início do século 19, o romance lida com temas essenciais à vida contemporânea: a guerra e a paz. Tolstói narra as guerras entre o imperador francês Napoleão e as principais monarquias da Europa, dissecando causas, origens e consequências dos conflitos e, principalmente, expondo os homens e suas fraquezas.

Tanto no exército Francês como no russo, tudo parecia acontecer por obra do acaso. Os planos de guerra eram elaborados e discutidos minuciosamente ao longo de semanas e, no momento da ação, nada do que fora planejado, nada do que estava traçado no papel, era posto em prática. Muita coisa fugia do controle dos líderes militares, e era justamente nesses momentos que ocorriam as surpresas: as vitórias e derrotas inesperadas. Tudo muito improvisado e muito humano.
 A invasão russa é uma surpresa para todos. O sonho de Napoleão se concretiza: ele toma Moscou, a capital do grande império, a cidade sagrada do czar Alexandre. A guerra-ou melhor, as guerras napoleônicas, como são chamadas - está apenas começando. Quem será o vencedor?

GUERRA E PAZ é uma epopeia no sentido de obra grandiosa, mas sem o lado heroico típico desse gênero literário. É um romance que coloca as pessoas em primeiro lugar; descreve minuciosamente a guerra para elogiar a paz. Os principais mitos políticos e bélicos são desmascarados e duramente criticados.

Com centenas de personagens e mais de mil páginas na versão original, aborda os dilemas da alma, a busca da espiritualidade, as dúvidas filosóficas, a maçonaria, a vida e a morte. O texto é tão verdadeiro que percorremos a narrativa como se estivéssemos dentro dela, neste livro forte sincero, sutil e irônico, em que o autor se coloca por inteiro. Por isso é tão humano e apaixonante.

O primeiro capítulo é um quadro representativo de toda a obra. Ele se passa em uma festa no salão de Ana Pávlovna Scherer, dama de companhia da imperatriz, que recebe a nobreza em sua casa- é assim que Tolstói introduz o leitor ao mundo que vai representar. Neste capitulo, não é importante saber quem é quem, e sim o que as pessoas dizem e pensam. Com os seus atores em cena, Tolstói começa a desvendar o jogo. Á maneira de um pintor delicado, compõe as personagens em pinceladas sutis. O clima que as envolve ajuda a revelar muito do interesse e da personalidade de cada uma. Nenhuma atitude é gratuita- todas as ações têm um significado, ou melhor, um interesse explícito.

O texto é tão fiel á realidade que mostra que alguns jovens russo tinham Napoleão - o inimigo número 1 da Rússia -como herói. Piotr Bezukhov e Andrei Bolkonski, aristocratas russos, torcem por Napoleão, provavelmente pelo seu carisma e pelas inovações realizadas no início do seu governo.

Esta adaptação respeitou o conteúdo e os aspectos estilísticos da obra original. Ao tornar o texto mais conciso-as versões integrais têm cerca de 1.200 páginas, ficaram evidenciados os aspectos relacionados mais especificamente com as guerras políticas e o jogo do poder, permeados pelo relacionamento pessoal das personagens.

Autor: Liev Tolstói. adaptação de Silvana  Salerno.
Editora: Cia das Letras.
Gênero; Romance Russo.
Páginas: 279.
Ano: 2008.

Ilustração Mauricio Paraguassu e Dave Santana.

Liev Tolstói 1828-1910.

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Espártaco.

 A história de um homem -o gladiador trácio Espartano- revoltado com a miséria e a injustiça da escravidão, disposto a enfrentar a opulência de um império.
 A incrível força e liderança de um escravo que consegue reunir um imenso exército de homens sob um único ideal: A LIBERDADE. A perfeita união de ficção e fato histórico neste grande romance de Howard Fast.

 Este é desses livros que contam uma história que todo mundo já ouviu (aliás, é a base para uma de suas versões mais famosas, o filme clássico de 1960 com Kirk Douglas. É também uma dessas incríveis histórias reais que sobrevivem ao tempo e são compartilhadas pelas gerações.
 Essa versão foi escrita pelo autor norte-americano Howard Fast no auge do macartismo, a perseguição nada velada aos comunistas. A obra, com viés marxista bem explícito (o conceito de luta de classes está em todos os lados, até literalmente, e como se isso não estivesse claro o suficiente em determinado ponto um personagem vira e diz algo mais ou menos assim: “não trabalho com escravos, só com assalariados, porque já que eles recebem pagamento nunca vão se rebelar”), é um lembrete que, apesar da época difícil, houve desde o início da humanidade aqueles que deram a vida pela liberdade e que cabe a cada um, independente da época, seguir seu exemplo.
 O escravo Spartacus, que liderou seus iguais a uma rebelião contra seus senhores na República Romana, dois milênios atrás, marcou seu nome e seus feitos na história e os fatos deram lugar às lendas, assim como às interpretações feitas pelas pessoas do tempo presente. E, apesar desta ser sua história e ele ser indubitavelmente o personagem principal, pouco aparece, mas toda a narrativa é feita para demonstrar a construção de um mito (que até hoje, dois mil anos depois, está vivo).
  A rebelião dos escravos liderada por Spartacus acabou, este foi presumivelmente morto e os outros insurgentes encontram-se pendurados em cruzes pelas estradas para lembrarem ao povo romano que não devem se rebelar, caso contrário esta será sua punição. Um grupo de jovens de classe alta, interessados apenas em se divertir, parte para dias agradáveis na capital e em seu caminho, permeado pela visão de cadáveres e pela lenda que só faz crescer, procura informações sobre aquele tal Spartacus de quem ouvem falar, despertando lembranças naqueles que participaram de forma mais ativa nos acontecimentos.
 É através de lembranças que recontam a história de Spartacus, o escravo que nunca se dobrou e que se aproveitou de sua posição como gladiador para liderar uma rebelião que tinha como objetivo primário a liberdade, mas que cresceu de vulto até se tornar uma ameaça à própria Roma. Opõe-se então a vida dos escravos retirada de si e a rotina miasmática da classe alta, das maquinações políticas, fofocas, futilidades e desumanização à vida simples dos escravos e seu desejo de recuperar sua liberdade.
 Nesse sentido, especialmente tocante quando o narrador passa a ser o escravo judeu David, que teve tudo tirado de si, mas para quem Spartacus, em uma posição de redenção, lhe devolveu a dignidade e a esperança. O líder que o inspirava e aos outros companheiros, que os levava a lutar pela liberdade e, quem sabe, pelo fim do sistema opressor. A conclusão final não deixa de ser feliz: os homens morreram, mas o mito está vivo para inspirar as gerações vindouras, para mostrar que liberdade e dignidade são valores pelos quais, independente de qualquer situação, vale a pena se lutar.
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O Guarani


Na primeira metade do século XVII, Portugal ainda dependia politicamente da Espanha, fato que, se por um lado exasperava os sentimentos patrióticos de um frei Antão, por outro lado a ele se acomodavam os conservadoristas e os portugueses de pouco brio.
D. Antônio de Mariz, fidalgo dos mais insignes da nobreza de Portugal, leva adiante no Brasil uma colonização dentro mais rigoroso espírito de obediência à sua pátria. Representa, com sua casa-forte, elevada na Serra dos Órgãos, um baluarte na Colônia, a desafiar o poderio espanhol. Sua casa-forte, às margens do Pequequer, afluente do Paraíba, é abrigo de ilustres portugueses, afinados no mesmo espírito patriótico e colonizador, mas acolhe inicialmente, com ingênua cordialidade, bandos de mercenários, homens sedentos de ouro e prata, como o aventureiro Loredano, ex-padre que assassinara um homem desarmado, a troco do mapa das famosas minas de prata.
Dentro da respeitável casa de D. Antônio de Mariz, Loredano vai pacientemente urdindo seu plano de destruição de toda a família e dos agregados. Em seus planos, contudo, está o rapto da bela Cecília, filha de D. Antônio, mas que é constantemente vigiada por um índio forte e corajoso, Peri, que em recompensa por tê-la salvo certa vez de uma avalancha de pedras, recebeu a mais alta gratidão de D. Antônio e mesmo o afeto espontâneo da moça, que o trata como a um irmão.
A narrativa inicia seus momentos épicos logo após o incidente em que Diogo, filho de D. Antônio, inadvertidamente, mata uma indiazinha aimoré, durante uma caçada. Indignados, os aimorés procuram vingança: surpreendidos por Peri, enquanto espreitavam o banho de Ceci, para logo após assassiná-la, dois aimorés caem transpassados por certeiras flechas; o fato é relatado à tribo aimoré por uma índia que conseguira ver o ocorrido. A luta que se irá travar não diminui a ambição de Loredano, que continua a tramar a destruição de todos os que não o acompanhem.
Pela bravura demonstrada do homem português, têm importância ainda dois personagens: Álvaro, jovem enamorado de Ceci e não retribuído nesse amor, senão numa fraterna simpatia; Aires Gomes, espécie de comandante de armas, leal defensor da casa de D. Antônio.
Durante todos os momentos da luta, Peri, vigilante, não descura dos passos de Loredano, frustrando todas suas tentativas de traição ou de rapto de Ceci. Muito mais numerosos, os aimorés vão ganhando a luta passo a passo.
Num momento, dos mais heróicos por sinal, Peri, conhecendo que estavam quase perdidos, tenta uma solução tipicamente indígena: tomando veneno, pois sabe que os aimorés são antropófagos, desce a montanha e vai lutar in loco contra os aimorés: sabe que, morrendo, seria sua carne devorada pelos antropófagos e aí estaria a salvação da casa de D. Antônio: eles morreriam, pois seu organismo já estaria de todo envenenado.
Depois de encarniçada luta, onde morreram muitos inimigos, Peri é subjugado e, já sem forças, espera, armado, o sacrifício que lhe irão impingir. Álvaro, a esta altura enamorado de Isabel, irmã adotiva de Cecília consegue heroicamente salvar Peri.
Peri volta e diz a Ceci que havia tomado veneno. Ante o desespero da moça com essa revelação, Peri volta à floresta em busca de um antídoto, espécie de erva que neutraliza o poder letal do veneno. De volta, traz o cadáver de Álvaro morto em combate com os aimorés.
Dá-se então o momento trágico da narrativa: Isabel, inconformada com a desgraça ocorrida ao amado, suicida-se sobre seu corpo.

Tronco do Ipé



A história tem como o cenário a Fazenda Nossa Senhora do boqueirão, na zona da mata fluminense. Um velho tronco de ipê, outrora frondoso, representa a decadência da fazenda. Bem próximo, numa cabana, mora o negro Benedito, espécie de feiticeiro, que guarda o segredo da família. Mário, o personagem central, que viveu desde criança na fazenda, juntamente com a amiga Alice, descobre que o pai da moça, Joaquim, é o assassino de seu pai. Desesperado, Mário tenta suicídio, pois não pode se casar com a filha de um assassino. Mas o negro Benedito o impede, contando-lhe o segredo: Joaquim não matou o pai de Mário. Ele foi tragado pelas águas do Boqueirão e está enterrado junto ao tronco do ipê. Mário reconcilia-se com a vida e casa-se com Alice.


PERSONAGENS:

Mário, é o adolescente, herói, que expõe a própria vida para salvar Alice, a filha do possível assassino do pai. Mário é a figura romântica central do livro, bem como central exemplar da filosofia do individualismo. Personagens que age por si, conforme as inspirações de seu mundo interior, proucura abrir caminho desfazendo os elos de proteção paternalista que tentam sufocá-lo.
Alice, personagem símbolo da candura, fruto de uma ligação tardia, flor de ternura nascida minado pelo ódio, pela discórdia e pelas ambições que destroem vidas e separam corações. No meio de tantas contradições e lutas, a jovem bela,a jovem virgem vence e torna-se com o eleito de seu coração o centro da história, o ponto alto do romance.
O barão é outro personagem ladina, calculista, matreira, símbolo do enganoe do embuste, destruidor de fortunas e de vidas. Encarna as paixões destruidoras, contraditórias. No fim do ciclo da história torna-se brando. Procura reparar o passado, reconstruir um mundo que destruiu consegue parte de seu intento graças à força do amor de Alice e à boa vontade de Mário.
O pai Benedito é a personagem do mistério. Tudo vê, tudo sabe, tudo presencia, è mal interpretado, é o feiticeiro. Transforma tantas coisas no mistério do boqueirão e junto do tronco do ipê. Parece um criador do tempo, uma presença viva e ativa dos acontecimentos dramáticos da vida da fazenda do Boqueirão.

Autor: José de Alencar.
Gênero: Romance Brasileiro.
Editora: Letras & Artes.
Ano:1967.            Páginas: 227.

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As Minas de Prata.

As Minas de Prata, de José de Alencar, é uma espécie de modelo de romance histórico tal como esse tipo de romance é imaginado pelos ficcionistas. Foi publicado sete anos depois de O guarani, sendo a edição original cinco volumes, em um total de mil páginas.

A ação passa-se no século XVIII, uma época marcada pelo espírito aventureiro. É considerado o melhor romance histórico do autor.

Sua composição é apoiada por estrutura narrativa coesa; a trama, habilmente conduzida, ordena-se criando uma ambiência variada e riquíssima. O estilo é largo e primoroso, e o claro domínio sobre o desenvolvimento da narrativa impede que a trama avance ou recue em demasia por conta de suas voltas e reviravoltas. Constitui referência fundamental para a história da literatura romanesca.

A história é simples e comandada, direta e indiretamente, por três personagens: porque é graças a elas que boa parte das ações irá se desenvolver. O assunto do livro é o famoso roteiro das minas de prata, cuja descoberta se atribui a um aventureiro, Robério Dias. É em torno de uma incansável busca pelo roteiro das minas que todas as páginas do romance, que é ação do princípio ao fim, gravitarão.

Estácio, o herói do romance é filho de Robério Dias. Jovem metido em pobreza pecuniária, mas abastado de grande coragem e honra cavalheirescas, tem pela frente dois desafios: reabilitar a memória do pai, livrando-o da acusação de "falso" e "embusteiro" (quer dizer, de ter inventado a existência das minas), e superar o preconceito social para casar-se com Inês de Aguilar, que é "princesa inacessível", já que é nobre e rica. Para tanto, faz-se mister a recuperação do valioso roteiro.

Memórias Póstumas de Brás Cubas


Com Memórias Póstumas de Brás Cubas, publicado em 1881, Machado de Assis inaugura o realismo nas letras brasileiras. A partir dessa obra ele se revela um arguto observador e analista psicológico dos personagens.
O ritmo da obra é lento, com várias digressões e narrado de maneira irreverente e irônica por um "defunto autor" (e não um "autor defunto", como podem pensar). Brás Cubas, por estar morto, se exime de qualquer compromisso com a sociedade, estando livre para critica-la e revelar as hipocrisias e vaidades das pessoas com quem conviveu.
Essa condição de autor defunto permite ao narrador suspender a narrativa ou o tempo, dialogar com o leitor no momento e que sugere estar escrevendo algum capítulo e até mesmo propor ao leitor a supressão de algum capítulo. O tempo para o narrador é suspenso e ele vai visitando seu passado, conhecedor que é dos segredos após a morte, sem revelar ao leitor tais mistérios, vai se mostrando um narrador irônico acerca das paixões humanas.
Brás Cubas vai contando a sua vida e contando os vários episódios que viveu. Conta sobre a prostituta de luxo espanhola Marcela, que o amou "durante quinze meses e onze contos de réis". Para livrar-se dela, os pais de Brás Cubas decidem mandá-lo para a Europa. Volta doutor, em tempo de ver a mãe antes de morrer. Mesmo na Europa, embora tivesse concluído os estudos e se diplomado, de fato, a boêmia e os amores fugazes direcionam sua vida.
Depois de um namoro breve e inconseqüente com Eugênia, uma moça simples e pobre, defeituosa de uma perna, Brás Cubas, por interferência de seu pai, começa um namoro com Virgília. Cujo pai poderia favorecer uma almejada carreira política.
Numa certa ocasião, no passeio público, Brás reencontra Quincas Borba, um amigo de escola. Quincas é um mendigo, e num abraço rouba-lhe um relógio.
Pouco depois Quincas Borba aparece rico e filósofo, herdeiro de uma grande fortuna e propagador do Humanitismo.
A filosofia do Humanitismo consumirá grande parte da vida do personagem Quincas Borba, fundada numa espécie de Humanismo com elementos deterministas contraditoriamente ligados a elementos de caráter orientalista, tal filosofia é uma paródia das crenças filosóficas da época, baseando-se em máximas, dentre as quais a mais importante era: “Ao Vencedor, às batatas”, moral de uma parábola que tentava justificar a competição e a guerra na sociedade burguesa.
Noutro reencontro, Brás Cubas vê Marcela, velha e arruinada num subúrbio do Rio de Janeiro.
Virgília lhe é roubada por Lobo Neves, jovem mais decidido e confiante.
O pai de Brás Cubas morre, deixando porém, claro o desgosto que tinha com o destino que as coisas tinham tomado para seu filho: nem casamento e nem carreira política.
Anos depois, Brás Cubas - um solteirão - e Virgília - esposa de Lobo Neves tornam-se amantes.
Lobo Neves é nomeado para presidente de uma província do norte do Brasil, Brás teme pela separação com Virgília. O próprio Lobo Neves, confiando no amigo, chega a convidar Brás Cubas para ser seu secretário na província. Porém, quando da publicação do edital de nomeação no diário oficial, o Lobo Neves declina do cargo, pois fora publicado no dia 13, e ele tinha uma superstição com esse número.
Virgília fica grávida de Brás Cubas, o desejo de ter um filho enche de esperanças Brás Cubas quanto ao desfecho de sua situação amorosa, porém, a criança morre antes de nascer, e os amantes se separam. O Lobo Neves é novamente nomeado para presidente de outra província e desta feita os amantes se separam.
Sabina, a irmã de Brás, arranja-lhe uma noiva, Eulália, que no entanto, morre vítima de uma epidemia. Sem conseguir ser político, Cubas em busca da celebridade tenta lançar o emplastro Brás Cubas, tal emplastro traria a glória buscada pelo personagem, seria uma espécie de remédio para todos os males. Porém, Brás Cubas vêm a falecer de pneumonia antes de realizar o seu intento.

Autor : Machado de Assis.
Editor: Editora Moderna.
Gênero : Romance.
Páginas: 152. Ano: 1994.

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Ubirajara ( lenda Tupi )

 Produzido em 1874, Ubirajara é parte fundamental do conjunto de obras indianistas de José de Alencar, nosso maior prosador romântico, que produziu, também, romances urbanos (de costumes), regionalistas e históricos.
             O romance revela, do ponto de vista de José de Alencar, o caráter da nação indígena, um relato dos costumes e da própria índole do selvagem - o bom selvagem - oposto àquilo que informam os textos de missionários jesuítas e viajantes aventureiros. Trata-se de uma releitura do homem nativo. O próprio romancista afirma, na "Advertência" que abre o romance:
            "Este livro é irmão de Iracema. Chamei-lhe lenda como ao outro. Nenhum título responde melhor pela propriedade, como pela modéstia, às tradições da pátria indígena.
            Quem por desfastio percorrer estas páginas, se não tiver estudado com alma brasileira o berço de nossa nacionalidade, há de estranhar em outras coisas a magnanimidade que ressumbra no drama selvagem a formar-lhe o vigoroso relevo.
            Como admitir que bárbaros, quais nos pintaram os indígenas, brutos e canibais, antes feras que homens, fossem suscetíveis desses brios nativos que realçam a dignidade do rei da criação? [...]"
            A temática amorosa revela tanta importância quanto a temática da honra. Durante todo o romance o amor supera todas as dificuldades.
            O romance é narrado em terceira pessoa, por um narrador todo-poderoso que sabe e vê tudo ao seu redor. A história passa-se no século XV, o que podemos ver no fato da ausência do homem branco. Apresenta como espaço a natureza selvagem de um Brasil primitivo.
            A ação externa é a que predomina a obra. O romance com tom épico é dividido em nove capítulos:

I. O caçador - Jaguarê sai de sua taba em busca de um inimigo para conseguir o título de guerreiro.
II.O guerreiro - Tendo vencido Pojucã, Jaguarê adota o nome guerreiro de Ubirajara, senhor da lança.
III. A noiva - Jandira, noiva de Ubirajara, espera por ele, mas ele não a procura. Informa ao povo sua intenção de não ficar com ela e vai em busca de Araci, filha do chefe da nação tocantim.
IV. A hospitalidade - Mudando o nome para Jurandir, para não se deixar reconhecer, Ubirajara hospeda-se na taba dos tocantins.
V. Servo do amor - Ubirajara, ainda como Jurandir, revela suas intenções e é aceito na casa de Itaquê para servi-lo e adquirir o direito de combater para ganhar a mão de Araci.
VI. O combate nupcial - Jurandir (Ubirajara) compete com os demais e ganha o direito de casar-se com Araci.
VII. A guerra - O cunhado de Ubirajara, Pojucã, torna-se seu prisioneiro de guerra, por isso terá de matá-lo. Ubirajara então se identifica, desencadeando a guerra entre araguaias e tocantins.
VIII. A batalha - Quando Ubirajara chega com o seu povo, os tocantins são atacados pelos tapuias.Uma criança tapuia cega o chefe tocantim e ficam sem liderança.
IX - União dos arcos - Ubirajara consegue dobrar o arco de Itaquê e torna-se assim o novo chefe da nação de Pojucã e Araci, fazendo com isso a união das nações de guerreiros.

Autor: José de alencar.
Editora; Letras e Artes.
Gênero: Romance Brasileiro.
Págnas: 103. Ano:1967.

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Alma de Lázaro


Na obra "A Alma de Lázaro"José de Alencar  transporta o leitor para o diário de um leproso. Terror e sofrimento, solidão e solidariedade, repugnância e sentimento. Ódio e amor. Possui um enredo macabro e fascinante, que fará com que o leitor se prender à leitura.

Tinha ouvido uma voz trêmula que rezava cantando à surdina uma ladainha de igreja; e pareceu-me que afinal chegara a ocasião de ver surgir diante de mim um desses fantasmas que nas minhas extravagantes alucinações, eu tantas vezes evocara."

A ALMA PENADA
Triste irrisão é a glória. Quantos engenhos sublimes, criados para as arrojadas concepções,
que ficam aí tolhidos pelo estalão do viver banal, senão sepultos em vida na indiferença,
quando não é no desprezo das turbas?
Também quanta ralé, feita para patinhar no pó, que se ala as eminências, insuflada pelos
parvos, e se apavona com as galas da celebridade?
E dizer que homens de são juízo labutam ou porfiam após esse fogo-fátuo, e deslumbram-se
a ponto de esquecerem afetos e bens, sacrificados em má hora à ilusão falaz!


José Martiniano de Alencar nasceu em 1829 no Rio de Janeiro. Foi jornalista, político, advogado, orador, crítico, cronista, polemista, romancista e dramaturgo brasileiro. Faleceu em 1877, na mesma cidade de nascimento.

Autor: José de Alencar.
Editora: Letras e Artes.
Gênero: Romance.
Páginas: 51.
Ano: 1964.

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Dom Casmurro

Dom Casmurro Bentinho, chamado de Dom Casmurro por um rapaz de seu bairro, decide atar as duas pontas de sua vida . A partir daí, inicia acontar sua história (importante salientar esse detalhe !!!! É Bentinho que nos narra sua vida).Morando em Matacavalos com sua mãe Dona. Glória,viúva , José Dias o agregado, Tio Cosme advogado e viúvo e prima Justina(viúva) , Bentinho possuía uma vizinha que conviveu como"irmã-namorada" dele , Capitolina - a Capitu . Seu projeto de vidaera claro, sua mãe havia feito uma promessa, em que Bentinho iria paraum seminário e tornar-se-ia um padre . Cumprindo a promessa Bentinho vai para oseminário, mas sempre desejando sair, pois se tornando padre não poderia casarcom Capitu . José Dias, que sempre foi contra ao namoro dos dois, é quemconsegue retirar Bentinho do seminário, convencendo Dona Glória que o jovem deveriair estudar no exterior, José Dias era fascinado por direito e pelos estudos noexterior. Quando retorna do exterior, Bentinho consegue casar com Capitu edesde os tempos de seminário havia fundamentado amizade com Escobar que agoraestava casado e sempre foi o amigo íntimo do casal. Nasce o filho de Capitu,Ezequiel. Escobar, o amigo íntimo, falece e durante o seu velório Bentinho percebeque Capitu não chorava, mas aguçava um sentimento fortíssimo. A partir dessemomento começa o drama de Bentinho. Ele percebe que o seu filho (?) era a carade Escobar e ele já havia encontrado, às vezes, Capitu e Escobar sozinhos emsua casa. Embora confiasse no amigo, que era casado e tinha até filha, odesespero de Bentinho é imenso. Vão para Europa e Bentinho depois de um tempovolta para o Brasil . Capitu escreve-lhe cartas, a essa altura, a mãe deBentinho já havia morrido, assim como José Dias. Ezequiel um dia vem visitar opai e conta da morte da mãe. Pouco tempo depois, Ezequiel também morre, mas aúnica coisa que não morre no romance é Bentinho e sua dúvida .Análise num pequeno comentário :Os olhos oblíquos e dissimulados de Capitudemonstram as duas pontas da história da vida de Bentinho: seu primeiro beijona amada ocorre mediante a percepção daqueles belíssimos olhos de ressaca e seudrama é, justamente, a percepção no velório dos mesmos olhos de Capitu. Ainfância coligada com Capitu também contribui para a afirmação de Bentinho,pois ela sempre esteve com o espírito de dissimulação que o deixava abismadonos momentos que ela conseguia enganar o próprio pai , o velho Pádua.Dom Casmurro é um livro complexo e cada leitura origina uma nova interpretação. Segundo Fábio Lucas, prefacionista de uma das edições de Dom Casmurro: "É a triangulação ideal que traduz a certeza de uma consciência conturbada. Machadode Assis faz em Dom Casmurro um fato inacreditável em sua narrativa: Ele cria um narrador que afirma algo (ou seja, diz que foi traído) e o leitor não consegue decidir-se se ele está mentindo ou não.. E aquela famosa pergunta que é a trilogia do romance, não só entre os brasileiros, mas também como os estudiosos do livro de outros países: Teria sido Capitu culpada de adultério?


Autor: Machado de Assis.
Gênero: Romance.
Editora: Abril Cultural.
Págnas: 174. Ano: 1981.

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