"Quem não interpreta o que lê, além de fazer alarde daquilo que julga ter assimilado, não entende o que diz."

Nada de Novo no Front.

Erich Maria Remarque, nasceu em Osnabruck, Alemanha a 22 de junho de 1898, e morreu em Locarno, Suíça, a 25 de setembro de 1970. Realizou os estudos básicos em sua cidade natal, frequentando depois a Universidade de Munster, interrompendo os estudos aos dezoito anos, participou ativamente da Primeira Guerra Mundial, sendo ferido três vezes, uma delas gravemente. Após o conflito, lutando para sobreviver num país completamente corroído pela guerra, exerceu diversas profissões: foi mestre-escola, pedreiro, organista, motorista, agente de negócios critico de teatro etc. Os empregos se sucederam até que um dia decidiu escrever, produzindo pequenos artigos, ora aceitos, ora recusados pelos jornais. Conseguiu trabalho em alguns periódicos de Hanôver e Berlin, mas não esqueceu o pesadelo da guerra. Suas noites de insônia são preenchidas por infindáveis cadernos onde anota os horrores que viveu. Em breve descobre naquelas folhas manuscritas o núcleo de um livro- um romance sobre a guerra. A editora Ullstein insiste no lançamento da narrativa, mas o máximo que consegue é sua publicação em folhetins no jornal Vossiche Zeitung. Publicado como livro pela primeira vez em 1929, Nada de Novo no Front (Im Westen Nichts Neues) deixa o publico e as autoridades alemãs totalmente perplexos, Objeto de criticas, polemicas e discussões, o romance de Remarque mostra - a um público que ainda considerava a guerra como uma fatalidade histórica cercada por um elo de romantismo heroico - a verdadeira face dos soldados que nela se envolveram.
Certamente não eram guerreiros, como os que apareciam nos filmes de propagandas, mas homens maltrapilhos, neuróticos e assustados.
Traduzido em varias línguas, o romance ganhou o mundo sendo levado à tela em 1930. Em 1931, Erich M Remarque iniciou a publicação também em folhetim, de O Caminho de Volta (Der Weg Zuruck), onde retrata as frustrações dos que regressavam das frentes de luta. Em 1933, perseguido pelos nazistas por causa do pacifismo manifesto em suas obras, exilou-se primeiro na Suiça e depois nos EUA, onde escreveria outros livros de sucesso sobre o absurdo da guerra; Três Camaradas (Three Comrades 1937), Náufragos,(Flotsam,1941), Arco do Triunfo (Arch of Triump,1946). Deixou também um romance póstumo, Sombras do Paraíso (Schatten in Paradies, 1971).

"Se todos os exércitos tivessem soldo igual e igual comida, a guerra seria depressa esquecida."

                                                                Trecho:
Durante o dia, a atmosfera está carregada de ameaças. Há um boato de que o inimigo vai apoiar os ataques da artilharia com tangues e aviões. Mas isto nos interessa menos do que o que se comenta sobre os novos lança chamas.
 Acordamos no meio da noite. A terra ribomba, por cima de nós um terrível bombardeio.
 Agachamo-nos pelos cantos. conseguimos distinguir projeteis de todos os calibres.
 Cada um apalpa seus pertences para assegurar-se, a todo momento, de que continuam ali, à mão. O abrigo estremece, a noite parece feita de rugidos e clarões. Nos lampejos momentâneos, entreolhamo-nos e, com rostos pálidos e lábios apertados, sacudimos as cabeças.
 Todos sentem como na própria carne os projeteis da artilharia pesada destruírem os parapeitos das trincheiras, enterrarem-se nas depressões e despedaçarem os blocos superior de concreto. As vezes, o estrondo é mais surdo e mais violento, como uma fera que ruge, quando a granada acerta na trincheira. De manhã, alguns recrutas estão lívidos e vomitam. São ainda muito inexperientes...

Nossa exaustão é tanta, que apesar da terrível fome, nem pensamos nos enlatados. Só pouco a pouco vamos transformando novamente em algo parecido com seres humanos...

Vemos homens ainda vivos que não têm mais a cabeça; vemos soldados que tiveram os dois pés arrancados andarem, tropeçando nos cotos lascados até o próximo buraco; um cabo arrasta-se dois quilômetros de quatro, arrastando atrás de si os joelhos esmagados; outro, chega até o Posto de Primeiros Socorros e, por sobre as mãos que os seguram, saltam os intestinos. Vemos homens sem boca, sem queixo, sem rosto; encontramos um homem que, durante duas horas, apertava com os dentes a artéria de um braço, para não ficar exangue. O sol se põe, vem a noite, as granadas assobiam, a vida chega ao fim...

Autor: Erich M. Remarque.
Editora: Abril.
Gênero: Primeira Guerra Mundial.
Paginas: 231.
Ano: 1981.

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