"Quem não interpreta o que lê, além de fazer alarde daquilo que julga ter assimilado, não entende o que diz."

Novelas nada Exemplares

Dalton tem fome- fome de escritor jamais saciada ao longo destes anos em que, remota província, continuou bombardeando amigos e admiradores com suas plaquetas de contos que- afinal- receberam a nobre forma de livro. Novela Nada Exemplares são, se não estou enganado, suas primeiras experiências no gênero que o tornaria famoso e respeitado, alguns de seus melhores momentos estão aqui neste livro, e permito-me citar " A Velha Querida " e " João Nicolau " como duas obras-primas. São duas experiências quase antagônicas. Na primeira, é o episódio incisivo, denso de notações e sentidos, uma aventura que dura o espaço de uma visita ao bordel. Na segunda, é toda uma existência percorrida aos saltos, a história de um homem quase que do berço ao túmulo. Em ambas, a mesma firmeza do autor em eliminar os ângulos mortos da narrativa e a mesma justeza em escolher o alvo e o ângulo exatos. Evidente, cada leitor encontrará aqui o seu trabalho preferido. E cada crítico terá o direito de acusar no autor curitibano a monocórdica obsessão pela província: pelos temas, pelos dramas, pela falta de humor da província. Trevisan situa-se adequadamente na linha nauseada da literatura para salvar ou acusar o homem, apenas para aproxima-lo das nossas retinas, mostrá-lo a nós mesmos e, através de diferentes planos, através de diversos retratos, constatamos que somos iguais a ele, que somos nós mesmos esses eternos noivos de província, esses ébrios e desesperados das noites de garoa, esses estrupadores envinhados das beiras de estrada.
A fidelidade de Dalton Trevisan a seu mundo teve uma consequência absurdamente lógica: a fidelidade ao gênero que escolheu para nos comunicar este mundo. Exemplo, se são único, pelo menos raro em qualquer literatura. Isso me dá vontade de citar Tchecov e Maupassant. mas não sou crítico. Como simples leitor, cumpre-me expressar o respeito e a admiração pela obra do contista paranaense, certo de que a sua presença em nossas letras marca um dos momentos mais puros e belos de nossa época literária.
( Carlos Heitor Cony)

Autor: Dalton Trevisan.
Editora: Record.
Gênero: Crônicas.
Págnas: 175.   Ano: 1979.

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