Bombardeios incessantes, cidades e símbolos destruídos. Colapso econômico, desintegração social, deslocamentos em massa, violência sexual.
Nesse detalhado e abrangente relato do fim da Segunda Guerra na Alemanha, o historiador inglês Richard Bessel mostra que o desenlace devastador do conflito incutiu nos alemães um profundo "complexo de vítima" central para a forma como emergiram do trauma da guerra e da derrota total, deram as costas ao Terceiro Reich e seus crimes, e puderam se concentrar na reconstrução de suas vidas e de seu país.
A transição da Alemanha para o período de relativa paz, democracia política e prosperidade é um dos nexos da história da Europa no Século XX, e no entanto tem recebido pouca atenção da historiografia. A perplexidade ante a tirania, a guerra e o genocídio que se abateram sobre o continente tem concentrado a atenção dos estudiosos; este livro busca analisar como a humanidade começou a sair das trevas.
"Fascinante... Bessel evoca de forma vívida o panorama arrasado da Alemanha conquistada."
The New Yorker.
No começo de 1945, a Alemanha viveu uma onda de violência talvez sem precedentes na história da Europa. Só no mês de janeiro, cerca de 1 milhão de pessoas morreram, e outras centenas de milhares deram inicio a marchas penosas para fugir do inimigo que comprimia o Reich a partir de todos os fronts, numa diáspora que para muitos seria irreversível.
Esse panorama aterrador é o ponto de partida do livro do historiador inglês Richard Bessel, que examina, com o suporte de impressionante repertório de fontes, a derrota total da Alemanha nazista e o despertar do povo alemão após a tragédia.
Embora esta transição traumática do nazismo ao pacifismo germânico da segunda metade do século XX seja fundamental para entender a formação da nova ordem na Europa ocidental- caracterizada pelo desenvolvimento social e econômico e relativa paz, o periodo tem sido muito pouco estudado.
A perplexidade ante o recrudescimento do militarismo alemão rumo à insanidade e a barbárie, a ânsia por compreender, ou explicar o tortuoso caminho dessa terra da qual brotaram tanto liminares da arte, literatura e filosofia quanto arquitetos de campanhas brutais de perseguição étnica têm seduzido, por razões óbvias, os historiadores.
Mas também é importante dar atenção a outro lado da história, e examinar como os alemães saíram das trevas e construíram uma nova nação cujos pragmatismo politico e postura pacifista contribuíram para a proeminência econômica do país entre as potências europeias. Os relatos aqui constantes da violência brutal, da fome, do deslocamento e da destruição no ano de 1945 pretendem contribuir para a historiografia dessa "hora zero", mostrando como o trauma do fim da guerra incutiu nos alemães, além do horror a qualquer conflito, a ideia de que eles também era vítimas, tanto dos crimes nazistas quanto das cruéis forças de ocupação, percepção do passado e da culpa, o fim do nacionalismo e uma visão pragmática da vida.
Trechos:
Uma grande parcela da população acostumou-se a viver apenas o momento presente. Faz render ao máximo qualquer vestígio de conforto que a vida lhes ofereça. Qualquer desculpa, que noutra situação pareceria trivial, é usada para justificar o ato de beber até a ultima garrafa de vinho guardada para comemorar a vitória, o fim do blecaute, a volta do marido ou do filho. Muita gente já convive com a ideia de acabar com a própria vida. Em toda parte é grande a procura por veneno, por uma pistola, por outros meios de pôr fim à vida. Suicídios, causados por depressão diante da catástrofe que certamente virá, ocorrem todo o dia. O assunto que predomina nas conversas familiares e entre parentes, amigos e conhecidos é como planejar a vida sob a ocupação inimiga. As pessoas separam o dinheiro economizado e procuram esconderijos seguros. Sobretudo os mais velhos se atormentam dia e noite com pensamentos sombrios, e preocupados, não conseguem dormir. Desconhecidos discutem abertamente em veículos de transportes públicos coisas que, poucas semanas atrás, ninguém teria ousado imaginar.
Embora nunca se venha a saber com exatidão o número de baixas, o total de alemães mortos na Segunda Guerra Mundial provavelmente chega perto de 6,5 milhões.
Essa foi a sombra negra sob o qual os sobreviventes da guerra de Hitler tiveram de recomeçar a vida, no meio das ruínas do país. A história da Alemanha depois do cataclismo de 1945 é, literalmente, uma história de vida depois da morte.
O Nazismo não só foi exposto diante do povo alemão como o fracasso catastrófico em seus próprios termos, mas se revelou também um ataque aos valores civilizados. Enquanto o povo alemão se beneficiou da aventura nazista, enquanto tirou proveito do racismo nazista e da pilhagem imperialista foi possível ignorar os crimes e que se apoiavam os privilégios "arianos" . No entanto, em 1945, os privilégios se evaporaram e os crimes ficaram expostos à vista de todos.
Editora: Companhia Das Letras.
Autor: Richard Bessel.
Gênero: Alemanha, Guerra e paz. história.
Ano: 2009.
Paginas: 483.
Nesse detalhado e abrangente relato do fim da Segunda Guerra na Alemanha, o historiador inglês Richard Bessel mostra que o desenlace devastador do conflito incutiu nos alemães um profundo "complexo de vítima" central para a forma como emergiram do trauma da guerra e da derrota total, deram as costas ao Terceiro Reich e seus crimes, e puderam se concentrar na reconstrução de suas vidas e de seu país.
A transição da Alemanha para o período de relativa paz, democracia política e prosperidade é um dos nexos da história da Europa no Século XX, e no entanto tem recebido pouca atenção da historiografia. A perplexidade ante a tirania, a guerra e o genocídio que se abateram sobre o continente tem concentrado a atenção dos estudiosos; este livro busca analisar como a humanidade começou a sair das trevas.
"Fascinante... Bessel evoca de forma vívida o panorama arrasado da Alemanha conquistada."
The New Yorker.
No começo de 1945, a Alemanha viveu uma onda de violência talvez sem precedentes na história da Europa. Só no mês de janeiro, cerca de 1 milhão de pessoas morreram, e outras centenas de milhares deram inicio a marchas penosas para fugir do inimigo que comprimia o Reich a partir de todos os fronts, numa diáspora que para muitos seria irreversível.
Esse panorama aterrador é o ponto de partida do livro do historiador inglês Richard Bessel, que examina, com o suporte de impressionante repertório de fontes, a derrota total da Alemanha nazista e o despertar do povo alemão após a tragédia.
Embora esta transição traumática do nazismo ao pacifismo germânico da segunda metade do século XX seja fundamental para entender a formação da nova ordem na Europa ocidental- caracterizada pelo desenvolvimento social e econômico e relativa paz, o periodo tem sido muito pouco estudado.
A perplexidade ante o recrudescimento do militarismo alemão rumo à insanidade e a barbárie, a ânsia por compreender, ou explicar o tortuoso caminho dessa terra da qual brotaram tanto liminares da arte, literatura e filosofia quanto arquitetos de campanhas brutais de perseguição étnica têm seduzido, por razões óbvias, os historiadores.
Mas também é importante dar atenção a outro lado da história, e examinar como os alemães saíram das trevas e construíram uma nova nação cujos pragmatismo politico e postura pacifista contribuíram para a proeminência econômica do país entre as potências europeias. Os relatos aqui constantes da violência brutal, da fome, do deslocamento e da destruição no ano de 1945 pretendem contribuir para a historiografia dessa "hora zero", mostrando como o trauma do fim da guerra incutiu nos alemães, além do horror a qualquer conflito, a ideia de que eles também era vítimas, tanto dos crimes nazistas quanto das cruéis forças de ocupação, percepção do passado e da culpa, o fim do nacionalismo e uma visão pragmática da vida.
Trechos:
Uma grande parcela da população acostumou-se a viver apenas o momento presente. Faz render ao máximo qualquer vestígio de conforto que a vida lhes ofereça. Qualquer desculpa, que noutra situação pareceria trivial, é usada para justificar o ato de beber até a ultima garrafa de vinho guardada para comemorar a vitória, o fim do blecaute, a volta do marido ou do filho. Muita gente já convive com a ideia de acabar com a própria vida. Em toda parte é grande a procura por veneno, por uma pistola, por outros meios de pôr fim à vida. Suicídios, causados por depressão diante da catástrofe que certamente virá, ocorrem todo o dia. O assunto que predomina nas conversas familiares e entre parentes, amigos e conhecidos é como planejar a vida sob a ocupação inimiga. As pessoas separam o dinheiro economizado e procuram esconderijos seguros. Sobretudo os mais velhos se atormentam dia e noite com pensamentos sombrios, e preocupados, não conseguem dormir. Desconhecidos discutem abertamente em veículos de transportes públicos coisas que, poucas semanas atrás, ninguém teria ousado imaginar.
Embora nunca se venha a saber com exatidão o número de baixas, o total de alemães mortos na Segunda Guerra Mundial provavelmente chega perto de 6,5 milhões.
Essa foi a sombra negra sob o qual os sobreviventes da guerra de Hitler tiveram de recomeçar a vida, no meio das ruínas do país. A história da Alemanha depois do cataclismo de 1945 é, literalmente, uma história de vida depois da morte.
O Nazismo não só foi exposto diante do povo alemão como o fracasso catastrófico em seus próprios termos, mas se revelou também um ataque aos valores civilizados. Enquanto o povo alemão se beneficiou da aventura nazista, enquanto tirou proveito do racismo nazista e da pilhagem imperialista foi possível ignorar os crimes e que se apoiavam os privilégios "arianos" . No entanto, em 1945, os privilégios se evaporaram e os crimes ficaram expostos à vista de todos.
Editora: Companhia Das Letras.
Autor: Richard Bessel.
Gênero: Alemanha, Guerra e paz. história.
Ano: 2009.
Paginas: 483.
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