A sombra das Manhãs conta a história da construção de uma praça que concentra o destino de três pessoas: o engenheiro encarregado da obra, a filha de portugueses que casualmente cruza por ela e o menino que abandona a vila onde nasceu com a promessa de um emprego na cidade. A narrativa do dia-a-dia de cada um dos protagonistas esconde engrenagens que revolucionam a sociedade brasileira durante a segunda Guerra Mundial. Uma onda de desenvolvimento cobre de cinza as ruas empoeiradas. Carros e caminhões começam a aposentar as mulas e as caroças. O rádio invade as casas, e o mundo deixa de ser apenas o que os olhos alcançam. A sociedade inverte a sua rotação. Uma legião de migrantes abandona a roça em busca de emprego. O campo se esvazia. Os centros urbanos incham. os migrantes se deparam com o trabalho mal-remunerado nas indústrias e as margens da cidade. Na outra ponta dessa realidade, os imigrantes italianos que enriqueceram no Brasil protegem o seu patrimônio. Brindam à nova Itália, de Mussolini, e discutem política internacional, encastelados no seu novo refúgio: os clubes sociais.
Romano, o engenheiro, diante da insistência do caricato amigo Tito, passa a frequentar a sede do partido facista regional, cuja maior atração se resume aos sonolentos e vazios discursos dos conterrâneos; Flora, a filha de portugueses, sofre silenciosamente enquanto a irmã caçula se levanta contra as imposições do pai e desafia as convenções da época; Vitório, menino do interior, ao chegar na cidade se transforma em mão -de-obra barata e acompanha ingenuamente as discussões dos clientes no armazém onde trabalha.
A Segunda Guerra Mundial, distante nas vozes dos locutores, de repente se transfere para as ruas da então pacata cidade de Caxias. O Brasil se posiciona contra a Itália no conflito e devide brasileiros de imigrantes. Os militares fincam a bandeira brasileira na praça, batizam-na conforme a sua vontade e usam-na como palanque para disparar verbalmente contra os inimigos. Os brasileiros se mobilizam contra os "espiões" de Mussolini. Trocam o nome de ruas, monumentos e prédios erguidos pelos italianos. Organizam passeatas, protestam e exigem a naturalização dos imigrantes. Um clima de intolerância empalidece a cidade. Os caminhos de Romano, Flora e Vitório se separam.
Com uma prosa cristalina e dinãmica, coalhada de referências históricas, A Sombra das manhãs é um romance sobre a tentetiva do homem de enfrentar o seu passado, e sobre a possibilidade de reavê-lo - por mais desconhecido e confuso que esse passado possa parecer.
Gustavo Guertler é jornalista. nasceu em Caxias do Sul, RS.
Autor: Gustavo Guertler.
Gênero; Romance.
Págnas: 274. Ano: 2005.
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