Érico Veríssimo, desde o momento em que começou a ganhar notoriedade, viveu entre dois fogos bem distintos, como escritor: o da exdrema direita que enxergava nele um comunista encapuçado, um melífluo agente de 'teoria exóticas, extranhas aos sentimentos do povo e da civilização ocidental cristã"; e o da extrema-esquerda que não se conformava com a posição do romancista recusando-se sempre a transformar suas obras em contudentes panfletos de doutrinação partidária, Érico prosseguiu impávido na sua vocação literàría, uma das mais fortes e genuínas que o Rio Grande do Sul e o Brasil conheceram. Agora, quando sua voz e sua presença como homem extinguiram-se, há uma busca consciente e reparadora dos que nunca se conformaram em ver negado ao escritor aquilo que sempre foi uma tônica em sua vida: a disposição de usar sua poderosa arma na defesa da integridade do homem, da dignidade da pessoa humana, do respeito aos direitos dos cidadãos, atingindo sem esmorecimento e nem tibiezas a tirania e os seus déspotas, o poder da força, a opressão, as diferentes formas de ditaturas que neste país viscejaram e ainda sobrevivem, enfim, tudo aquilo que rebaixa o homem a escravo,a liberdade a simples condicionamentos de sobrevivência, os direitos em deveres, além das contínuas tentativas de subjulgar todo um povo sob a guante de uma vontade que se arvora em divina e que teria recebido dos céus o mandato intermnável de zelar pelo que entendem ser a ordem, a diciplina, a obediência, a sobrevivência.
Críticos que se obstinaram em desconhecer a presença daquele que,com pertinácia e com espírito superior, construia a sua obra, a qual sobreviverá à mediocridade da massa informe que o desprezava.
"Sou um simples contador de histórias"- eis a frase ditada pela modéstia do escritor e que foi desde logo agarrada com unhas e dentes pela voracidade dos que se empenhavam em destrui-lo. Para os detratores de sua grandeza, a frase passou a ser brandida como algo pejorativo como se a função do escritor, sobretudo a do romancista, não fosse precisamente esta.
Em "o Tempo e o Vento" Érico foi capaz de construir uma obra imperecível, utilizando-se da argamasa de dois séculos da história rio-grandense, sem cair na tentação dos escritores menores que enevitavelmente se deixariam arrastar pelo saudosismo do folclore, embalados pela crença de que "aqueles sim é que eram bons tempos". Ele recriou toda uma época, mas foi também um impiedoso olho crítico, expos a luz do sol a corrupção de todo um universo ensombrado pelo tradicionalismo, construiu uma obra monumental através de sua ética.
Como pois, negar o engajamento do escritor diante de um mundo cruel e desumano, carregado de injustiça e de dores?
Este livro escrito por um francês - distante, portanto, das panelinhas literárias nacionais- procura mostrar, através de uma honesta e exausiva busca, o lado Érico Veríssimo que a maioria da crítica brasileira procurou sempre escamotear dos olhos dos leitores. É uma obra que vale como documento e que, ao lado dos trabalhos de Flávio Loureiro Chaves e outros, serve para abrir a porta aos que procuram estudar e entender uma obra romanesca sem paralelo no rio grande e que, por isso mesmo, tornou-se antes de mais nada nacional e universal.
Mas Érico, por muito e muitos anos, ainda será tema de estudos e de interpletações, os quais, estamos certos, terminarão por fazer justiça a quem morreu, às vésperas de completar seus setenta anos, vigiado e censurado, apesar de representar fora do país o lado realmente grande que tanto nos deveria orgulhar, ao contrário da maioria dos critícos brasileiros, não cometeram pelo menos a injustiça de julgar Érico Veríssimo um alienado, um desengajado, um apolítico.
Josué Guimarães, Porto alegre. 1976.
Este estudo foi realizado em 1974 e 1975, como tese de mestrado ( mémorie de maitrise) na Universidade de Paris. O diretor do Institut D´Etudes portugaises Et Brésiliennes, professor decano Raymond Cantel, assumiu a direção da pesquisa.
O objetivo do trabalho, analizar a política implícita e explícita na sua obra e vida, foi facilitado pela grande gentileza de Érico Veríssimo, redigido antes de sua morte, deixamos em todo o livro as referências no presente. Preferimos manter o estudo tal qual foi defendido diante do júri na Sorbonne.
Autor: Daniel fresnot.
Gênero: Aspectos Políticos.
Editora: Graal.
Págnas: 97. Ano: 1977.
****
Nenhum comentário:
Postar um comentário