"Quem não interpreta o que lê, além de fazer alarde daquilo que julga ter assimilado, não entende o que diz."

1964..Golpe Midiático-Civil-Militar.


O golpe de 1964 chega aos seus 50 anos em 2014. O inventário dessa tragédia que abalou o Brasil continua a ser feito. Não foi apenas um golpe militar. Nem somente um golpe civil-militar. É verdade que empresários, governadores e militares atuaram em sintonia. Tem faltado, porém, um elemento no banco dos réus; a mídia. O golpe de 1964 foi midiático-civil-militar. O banco dos réus jamais foi formado. Militares, torturadores, golpistas de todos os naipes e mídia se autoanistiaram. É hora de exumar esses cadáveres guardados em nossos armários. Alguns ainda se exibem em vitrines na condição de paladinos da democracia. Os militares jamais mudaram de versão - teriam agido para salvar o país do comunismo e garantir a 'verdadeira' democracia. Os civis golpistas recorrem, quando saem de um mutismo estratégico, a argumentos semelhantes. A mídia reescreveu a história e a própria história dando-se, aos poucos, um papel heroico de resistência. Houve jornalistas que apoiaram o golpe e resistiram à ditadura. Os grandes jornais, de maneira geral, apoiaram o golpe e a ditadura. Este livro examina o melancólico e lamentável papel da imprensa no parto do regime autoritário implantado no Brasil em 1964. Grandes nomes do jornalismo e da literatura brasileiros cederam ao golpismo. Viram a chegada do caos nas reformas que tentavam arrancar o Brasil do atraso. A imprensa de 1964 atolou-se no mais rasteiro conservadorismo. Cumpriu a triste função de 'cão de guarda' dos interesses das camadas mais reacionárias. Alguns jornalistas fizeram questão de passar recibo reunindo em livro, ainda em 1964, suas impressões. Esta obra completa um ciclo de 'descobrimento'. A pesquisa, sustenta o autor, deve destapar, trazer à tona, revelar.
 Os barões da mídia comportara-se como velhinhas assustadas com medo dos comedores de criancinhas e, em nome dos seus interesses, assustaram velhinhas de carne e osso construindo um imaginário que se tornou, por muito tempo, mais real do que a realidade.

A TV CLOBO, de Roberto Marinho, recebeu ilegalmente, em 1965, 2.838.613,29 de dólares do grupo "Time-Life". O caso foi denunciado e provocou grande polêmica, mas acabou sepultado por decisão monocrática do ditador Costa e Silva, que considerou, contrariando a legislação vigente, a operação legal, normal e perfeitamente compatível com as normas.  
 O esquecimento pode vir com a memória.
Quando não pode apagá-la, deve saturá-la.

"O CLOBO, em 7 de maio de 1984, fazia o balanço de 20 anos de regime militar em seu "julgamento da revolução", co assinatura de Roberto Marinho, dono da Rede Clobo, o homem que mais ganhou com o golpe militar: 'Participamos da revolução de 1964 identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, ameaçadas pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada". Triunfo do mito, da distorção e da ideologia .    Origens da imprensa golpista.

 Os telegramas de Gordon a Kennedy, agora de domínio público, são um mapa da participação americana na implantação da ditadura militar no Brasil, Num dele lê-se: "O fundamental é organizar as forças políticas e militares para reduzir o seu poder e, em caso extremo, "afasta-lo" o então presidente da época João Goulart. Mandado para o exílio, após o golpe. 
 "O golpe e a ditadura começaram com um bestiário marcado pela bestialidade dos donos do poder."
 Na aspereza  do poder, Jango tinha amadurecido para as reformas de que o Brasil tanto precisava. A estupidez dos donos de jornal e a arrogância dos jornalistas, atolados na ignorância, na ingenuidade ou no conservadorismo, levaram a imprensa a ajudar a depor o homem que tentava arrancar o Brasil do muito que ainda lhe restava de hediondo."
 "A mídia não canta os resistentes e suas tragédias, mas os donos do poder e suas glórias interessadas."
Grande parte da classe média brasileira foi manipulada pela imprensa, pelas elites preocupadas com altos interesses e pela propaganda americana por meio de organismos como IPES e o IBAD. A religiosidade dessas pessoas foi usada para assustá-las co o perigo comunista: homens frios, determinados a tomar a propriedades dos outros, ateus e comedores de criancinhas. A mídia não se envergonhou de levar essa chantagem ao ponto máximo, fazendo crer que o país estava realmente a um passo de tornar-se satélite da União Soviética, A classe  média brasileira serviu de massa de manobra no fervor da Guerra Fria. Os militares golpistas, intoxicados pelos Estados Unidos, também se deixaram queimar nessa fogueira das disputas ideológicas. Em nome de Deus, da família, da pátria e da "liberdade", cometeram as piores arbitrariedades e os maiores crimes. 
  A Lei da Anistia não impede o reconhecimento dos equívocos mais lamentáveis nem os tardios pedidos de desculpas. Os erros crassos nunca prescrevem. Especialmente os cometidos pela mídia por ideologia. Ou por apuração duvidosa. A mídia ainda não pagou pelo que fez.

Sobre o autor:
Juremir Machado da Silva, doutor em Sociologia pela Sorbonner, Paris V, escritor, historiador, radialista e tradutor, é pesquisador 1B do CNPq, coordenador do programa de Pós- Graduação da PUCRS e autor.........


“Escrevi “1964 golpe midiático-civil-militar” para me divertir. Trabalhei como um cão, mas senti prazer. De que trata realmente meu livro? De que como jornalistas e escritores hoje cantados em prosa e verso apoiaram escancaradamente o golpe: Alberto Dines, Carlos Heitor Cony, Antonio Callado, Carlos Drummond de Andrade, Otto Lara Resend, Otto Maria Carpeaux, Rubem Braga e outros. Alguns, como Cony, arrependeram-se ainda na primeira semana de abril. Outros só mudaram depois de 1968 e do AI-5. Alguns permaneceram fiéis ao regime. Os mais espertos, como Alberto Dines, reescreveram-se”.

Autor: Juremir Machado da Silva.
Editora: Editora Sulina.
Gênero: Jornalismo, Golpe milítar.
Ano: 2014.
Paginas: 159.

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