Publicado e 1935, Caminhos Cruzados é um romance urbano e de aguda observação social. Tendo como cenário uma Porto Alegre onde já se confrontavam modernização e miséria, afluência e desencanto, o texto chocou os leitores de sua época pela exposição realista do descompasso brasileiro entre as diversas camadas sociais - e ainda hoje, tanto tempo depois de sua publicação, reverbera graças à abordagem narrativa adotada pelo autor.
Influenciado pela técnica de intrigas entrelaçadas e pela ausência de personagem principal da ficção de Aldous Huxley, e sem descrever acontecimentos de vulto, Érico Veríssimo expõe a fragilidade humana nu painel vivo e eletrizante de um tempo e de um país em brutal transformação.
Apresentação:
Quando tem valor, um romance pode tornar-se fonte de experiência intelectual e afetiva que fornece a mais de uma época o indispensável alimento espiritual. Caminhos Cruzados é dos melhores livros de Erico Veríssimo e com certeza os leitores de hoje gostarão dele tanto quanto nós gostamos quando foi publicado, há setenta anos. Mas, provavelmente, de maneira diversa.
Relendo-o pela quarta vez ou quinta vez depois de longo intervalo, senti o quanto permanece vivo e atraente, apesar de certa banalidade nos traços caricaturais.
Para os jovens do meu tempo ele representou antes de mais nada uma etapa na grande aventura que foi o boom da ficção brasileira nos anos 1930, depois que o movimento armado de outubro liberou tanta energia na vida política, na vida cultural, no ensino, no comportamento. Foi um decênio de opções ideológicas, marcado pela polarização fascismo-comunismo e pela convicção, nova no Brasil, de que o intelectual deveria definir-se politicamente.
Não era preciso mais nada para incorporarmos Erico Veríssimo ao nosso universo juvenil de aspirações reformistas, levando-nos a vê-lo como autor capaz de assumir uma posição social profundamente humana, inconformada ante o peso das desigualdades mas atenta aos direitos da literatura. Nesse sentido, Caminhos Cruzados nos pareceu um marco. Mas tarde verificaríamos que foi a parte do autor, além disso, uma espécie de compromisso, ao qual permaneceu fiel.
Prefácio.
A grande, multifacetada obra de Érico Veríssimo costuma ser dividida em dois grupos. Em primeiro lugar, cronologicamente falando, estão os romances da série Clarissa. Essa novela, publicada em 1933, inaugurou uma série de livros caracterizados sobretudo pela temática urbana - pela temática porto-alegrense, melhor dizendo. Nascido em Cruz Alta, Erico veio estudar em Porto Alegre, retornou à sua cidade natal quando os pais se separaram, em 1922. Teve alguns empregos (num banco,numa farmácia) e em 1930 retornou a capital, disposto a ganhar a vida escrevendo. Trabalhou então na Revista do Globo, uma publicação que marcou época no Rio Grande do Sul, e na qual havia publicado seu segundo conto, "Ladrão de Gado" (1928). Àquela altura já estava completamente ambientado e Porto Alegre, que então se transformou em cenário de sua ficção: Música ao Longe (1935), Um Lugar ao Sol (1936), Olhai os lírios do campo (1938), Saga (1940), O resto é silêncio (1943), e este Caminhos Cruzados, que é de 1935.
Livros escritos nas "aparas do tempo", como dizia o próprio Erico, que trabalhava o dia todo na revista e depois na Editora Globo, nessa época costuma ser incluído o curioso Noite, mas este é antes uma exceção na obra de Erico: um pequeno e enigmático romance, co personagens alegóricos e cenário indefinido.
De maneira geral, os críticos celebram Erico por seu "ciclo épico", iniciado em 1949 e que teve sua maior expressão nos romances da série O tempo e o vento. De fato, trata-se de um gigantesco e definitivo painel da história gaúcha, muito mais ambicioso que os romances da primeira fase. Mas será um erro rotular estes último como literatura menor - um erro para o qual colaborava a modéstia do escritor, que se intitulava apenas "um contador de histórias". Contar histórias é algo que Erico de fato sabia fazer, como o sabiam os escritores de sua geração, notadamente Jorge Amado. Também é verdade que se podia falar, nessa fase, de um jovem escritor, que arcava, portanto, com o ônus de inexperiência. Nessa fase, porém Erico já estava experimentado, e experimentado audazmente.
Autor: Érico Veríssimo.
Editora; Companhia de bolso.
Gênero: Romance.
Ano:2016. Paginas; 361.
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Influenciado pela técnica de intrigas entrelaçadas e pela ausência de personagem principal da ficção de Aldous Huxley, e sem descrever acontecimentos de vulto, Érico Veríssimo expõe a fragilidade humana nu painel vivo e eletrizante de um tempo e de um país em brutal transformação.
Apresentação:
Quando tem valor, um romance pode tornar-se fonte de experiência intelectual e afetiva que fornece a mais de uma época o indispensável alimento espiritual. Caminhos Cruzados é dos melhores livros de Erico Veríssimo e com certeza os leitores de hoje gostarão dele tanto quanto nós gostamos quando foi publicado, há setenta anos. Mas, provavelmente, de maneira diversa.
Relendo-o pela quarta vez ou quinta vez depois de longo intervalo, senti o quanto permanece vivo e atraente, apesar de certa banalidade nos traços caricaturais.
Para os jovens do meu tempo ele representou antes de mais nada uma etapa na grande aventura que foi o boom da ficção brasileira nos anos 1930, depois que o movimento armado de outubro liberou tanta energia na vida política, na vida cultural, no ensino, no comportamento. Foi um decênio de opções ideológicas, marcado pela polarização fascismo-comunismo e pela convicção, nova no Brasil, de que o intelectual deveria definir-se politicamente.
Não era preciso mais nada para incorporarmos Erico Veríssimo ao nosso universo juvenil de aspirações reformistas, levando-nos a vê-lo como autor capaz de assumir uma posição social profundamente humana, inconformada ante o peso das desigualdades mas atenta aos direitos da literatura. Nesse sentido, Caminhos Cruzados nos pareceu um marco. Mas tarde verificaríamos que foi a parte do autor, além disso, uma espécie de compromisso, ao qual permaneceu fiel.
Prefácio.
A grande, multifacetada obra de Érico Veríssimo costuma ser dividida em dois grupos. Em primeiro lugar, cronologicamente falando, estão os romances da série Clarissa. Essa novela, publicada em 1933, inaugurou uma série de livros caracterizados sobretudo pela temática urbana - pela temática porto-alegrense, melhor dizendo. Nascido em Cruz Alta, Erico veio estudar em Porto Alegre, retornou à sua cidade natal quando os pais se separaram, em 1922. Teve alguns empregos (num banco,numa farmácia) e em 1930 retornou a capital, disposto a ganhar a vida escrevendo. Trabalhou então na Revista do Globo, uma publicação que marcou época no Rio Grande do Sul, e na qual havia publicado seu segundo conto, "Ladrão de Gado" (1928). Àquela altura já estava completamente ambientado e Porto Alegre, que então se transformou em cenário de sua ficção: Música ao Longe (1935), Um Lugar ao Sol (1936), Olhai os lírios do campo (1938), Saga (1940), O resto é silêncio (1943), e este Caminhos Cruzados, que é de 1935.
Livros escritos nas "aparas do tempo", como dizia o próprio Erico, que trabalhava o dia todo na revista e depois na Editora Globo, nessa época costuma ser incluído o curioso Noite, mas este é antes uma exceção na obra de Erico: um pequeno e enigmático romance, co personagens alegóricos e cenário indefinido.
De maneira geral, os críticos celebram Erico por seu "ciclo épico", iniciado em 1949 e que teve sua maior expressão nos romances da série O tempo e o vento. De fato, trata-se de um gigantesco e definitivo painel da história gaúcha, muito mais ambicioso que os romances da primeira fase. Mas será um erro rotular estes último como literatura menor - um erro para o qual colaborava a modéstia do escritor, que se intitulava apenas "um contador de histórias". Contar histórias é algo que Erico de fato sabia fazer, como o sabiam os escritores de sua geração, notadamente Jorge Amado. Também é verdade que se podia falar, nessa fase, de um jovem escritor, que arcava, portanto, com o ônus de inexperiência. Nessa fase, porém Erico já estava experimentado, e experimentado audazmente.
Autor: Érico Veríssimo.
Editora; Companhia de bolso.
Gênero: Romance.
Ano:2016. Paginas; 361.
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