"Quem não interpreta o que lê, além de fazer alarde daquilo que julga ter assimilado, não entende o que diz."

A Ordem Negra

  A imagem do terceiro Reich na concepção e na imaginação populares, mesmo agora, já passado tanto tempo desde a Segunda Guerra Mundial, é a de um Estado totalitário compacto, organizado nos seus mais ínfimos detalhes, regido pela vontade de um homem, com uma única concepção política, a do Partido, e sustentados por monolíticas forças militares e policiais para assegurar-lhe a existência contra as ameaças externas e internas.
  A dolorosa realidade, entanto, não era esta. A obra cuja leitura será iniciada, apresenta-nos quadro bem diverso.
O aparelho estatal não fora pensado e examinado até as últimas ramificações para formar um sistema super racionalizado, ao contrário, predominava nele um tabuleiro de privilégios e as relações políticas constituíam um combate de todos contra todos, na luta desenfreada pelo poder.
  A  ambição insana demonstrava-se desde o mero tráfico de influências até o assassínio individual e coletivo.
 Nesse emaranhado de ambições, a personalidade de Hitler gerava temor e fanatismo, a magia de sua oratória e de seus inesperados impulsos encontravam fácil encanto num povo sofrido pelos acontecimentos de Versalhes e da crise econômica que abalava o mundo nos anos vinte e trinta.
  É paradoxal dizer-se que não foram a ordem e a autoridade que caracterizaram o Terceiro Reich mas a ausência de estruturas e a inexistência de uma verdadeira hierarquia. Porém, a arte de governar de Hitler deslocava constantemente o centro do poder politico pelos seus colaboradores, a delegação de poderes, a numerosos responsáveis por um mesmo problema, gerava a competição que enfraquecia a todos e impedia o surgimento de rivais.
  As grandes forças que atuavam no complexo político alemão escudavam-se no Estado de forma tradicional e no partido Nacional-Socialista. Mais tarde surgiriam a Ordem Negra que, não constituindo um Estado, não obstante interferia no seu Poder.
  O objetivo do presente livro é o estudo da interação dessas forças, o estilo é histórico e interpretativo pois que o autor relata, no tempo a evolução das estruturas paralelas que surgiam e se chocavam, as intrigas entre os respectivos líderes, as ideologias pelas quais se orientavam as acomodações de comportamento e as eliminações impiedosas quando os conflitos tornavam-se insanáveis. A leitura prende e fascina, o leitor comum e o erudito, apesar da densidade do texto. Numa época conturbada pela violência política, como a atual, pode convidar à reflexão porque apresenta subsídios relativos à impressionante distorção da psicologia humana normal quando submetida a ideologias e a regimes de discricionarismo absoluto.
  A grande contradição da Alemanha de então estava na organização do Partido Nacional-Socialista sobreposta ao organismo estatal, dai derivavam rivalidades entre os ministérios, do segundo, e os órgãos semelhantes, do primeiro, na segurança, na economia, nas relações exteriores. etc. Paulatinamente o Estado cedia lugar ao partido e este á toda-poderosa Schutzstaffel (SS) que, graças ao gênio organizador do seu chefe, Heinrich, Himmler, de simples esquadrão de proteção pessoal de Hitler, evoluiu de tal modo a interpenetrar na estrutura do Estado, fazendo sentir, dai, o seu halo invisível por toda a Alemanha.
  Assim por exemplo, a Polícia dos Ministérios do interior e da justiça, acabam submetidos à Direção-Geral da segurança do Reich, o Ministério da Economia á Direção Econômica SS, e o Ministério das Relações Exteriores vê-se diminuído pela ação da Seção Estrangeira do Partido, e pelo Comissariado do Reich para a Consolidação da Nação Alemã, Até mesmo a Wehrmacht, o exército tradicional, aceita lado a lado a Waffen SS, o exército do partido.
  As estruturas se chocam ao sabor das combinações de poder. Do mesmo modo as ideologias particulares. Hitler e Himmler propugnam a redistribuição das populações Europeias, particularmente as Eslavas e as judias, marcadas para a Sibéria e a Palestina. Goebbels prefere o extermínio dos judeus e os acontecimentos precipitam-se nesta última direção. Hitler assim decide, e Himmler transforma-se no mais feroz caçador de judeus.
  O livro SS, AORDEM NEGRA, é convincente na descrição e na interpretação dos episódios políticos que ocorreram o Terceiro Reich, da tomada do poder pelos nazistas à queda do império hitleriano em 1945. Nele ficam ressaltadas as intrigas que sempre lavraram entre os homens e os grupos, naquela conjuntura. No rastro dessas intrigas, as suas consequências: o não sistema político erigido como norma institucional, a violência como norma de conduta. 
                                            BIBLIOTECA DO EXÉRCITO EDITORA.      

Autor: Heinz Hohne.

Editora; Biblioteca do Exército.
Paginas: 307. Ano: 1970.
Gênero: Obra -Jornalistica. 

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Um comentário:

Hugo Montfort disse...

Muito bom livro! Recomendo!