"Quando o extraordinário se torna cotidiano, é a revolução."
Ernesto "Che" Guevara.
Como foi possível, numa pequena ilha situada a apenas alguns quilômetros da maior potência capitalista do mundo, surgir uma revolução que mudou o sentido da História da América Latina?
A resposta para esta e para outras questões está neste livro ágil direto e corajoso de Emir Sader, cientista político da Unicamp, que conheceu In Loco o novo país em que Cuba se transformou depois de 1959.
É possível falar de revolução cubana em dois sentidos: como processo de luta pela tomada do poder por Fidel Castro e os companheiros que com ele lutaram na oposição insurrecional ao regime do ditador Fulgencio Batista. Nessa acepção, foi um movimento guerrilheiro que capitalizou o descontentamento do povo contra as condições de miséria, corrupção, falta de liberdade e dependência em relação aos EUA, para instalar um governo revolucionário nos primeiros dias de 1959. Na segunda acepção, a revolução cubana de 1959 foi a continuidade das frustradas lutas de independência iniciadas na segunda metade do século passado e pode ser caracterizada efetivamente como uma revolução, não pelo fato de ter tomado o poder, mas por ter desenvolvido um processo de transformações, radicais das estruturas econômicas, sociais, políticas e ideológicas que fizeram de Cuba o primeiro país socialista da America Latina e do mundo ocidental.
Revolução, nesse sentido, é o conjunto de processos de mobilização, organização e luta do povo, em condições históricas concretas, contra o poder instituído, pela construção de um novo poder político que dirija as transformações radicais das estruturas dominantes na sociedade. Nesta acepção, a revolução cubana é um dos poucos exemplos neste continente que realmente merece o nome de revolução, qualquer que seja o juízo que se faça sobre o seu caráter. Ela não é apenas um produto histórico da mobilização popular, mas é o desenvolvimento de um programa de transformações democráticas, nacionais e socialistas que modificou substancialmente a sociedade cubana nas décadas transcorridas desde a fuga de Batista para o exterior e a instalação do poder revolucionário em Havana. As maiores dificuldades derivam do caráter polêmico do tema.
Talvez não exista questão mais contraditória na historiografia contemporânea que a revolução cubana. Entre a apologia e a satanização, parece não haver meio-termo possível. Entre os que ao visitar a Ilha, quase infalivelmente ficam “maravilhados” com a eliminação do analfabetismo, da prostituição, da descriminação racial, do desemprego, da violência, da miséria, e com a saúde e a educação gratuitas; e, por outro lado, os que execram radicalmente a “falta de liberdade e de democracia” no país, se divide praticamente toda a bibliografia existente.
Toda revolução é um processo heterodoxo. Nunca repete, nem na forma, os fenômenos similares dos processos que a antecederam. A revolução russa foi completamente diferente da frustrada tentativa da Comuna de Paris, a chinesa se diferenciou amplamente da russa, e a cubana, não repetiu a história das revoluções anteriores. À complexidade de apreensão do significado da revolução cubana se somou sua polêmica projeção para a America Latina, encarada como “modelo” a seguir ou “perigo” a evitar. Nem a revolução russa teve na Europa a repercussão que o triunfo de Fidel Castro e seus companheiros teve na America Latina. Isso contribui para a polarização radical na abordagem do fenômeno cubano, pelo próprio fato de que ele nos envolve a todos no continente, como atração ou repulsa, apontando “vias de superação da crise capitalista” ou assinalando caminhos a recusar “para preservar a democracia”. Tudo isso contribui para a complexidade na abordagem do tema. Fidel Castro afirmou certa vez que eles tinham “feito uma revolução maior que nos mesmos”. Talvez seja uma das poucas afirmações do líder cubano que adeptos e adversários estão dispostos a aceitar como verdadeiras.
No plano do combate á imoralidade reinante, além das expropriações feitas conforme lei de Confisco de Bens Malversados e dos processos penais correspondentes, atacou-se a enorme rede de Cassinos, ligada diretamente ás casas de prostituição e ao comércio de drogas que imperava livremente em Cuba. O país havia sido transformado pela máfia ianque em um antro de jogo para a burguesia norte-americana -especialmente a de Miami- e em bordel para marinheiros dos E.U.A, que reinava abertamente fazendo uso da violência e da proteção policial. Toda essa rede estava vinculada estreitamente aos mecanismos de corrupção do governo de Batista.
A revolução cubana tem portanto de ser compreendida como uma via especifica de solução aos problemas de miséria e ditadura produzidos pelo subdesenvolvimento na região do Caribe Latino-Americano.
O sistema político cubano recebe, o maior apoio popular ativo, que um regime conhece, mediante a mobilização maciça do povo nas grandes manifestações, nos trabalhos voluntários, nas missões de solidariedade internacionalista em outros países e em milhares de evidências cotidianas de um consenso popular inquestionável, que nenhum outro regime pode usufruir.
Esse consenso não e propriedade do povo cubano ele é resultado de um sistema que rompeu com o capitalismo porque sentiu que os problemas fundamentais dos homens não podem ser resolvidos conforme leis de mercado, da propriedade privada dos meios de produção, da oferta e procura, e amparados no capital especulativo e nos monopólios multinacionais. Foi assim que as questões da miséria, do desemprego, da crise habitacional, do analfabetismo, da prostituição, da mendigância, das drogas, da violência, da desnutrição, da discriminação racial, da saúde do povo encontraram sua resolução num sistema socialista, adequando ás condições particulares de um pequeno país caribenho, que orienta o seu regime pelas necessidades sociais da população e não segundo os vaivéns arbitrários das leis cegas do mercado capitalista.
Em outros campos, como o cultural e o esportivo, a revolução apresentou avanços que lhe reservam um lugar privilegiado em todo o terceiro mundo e inclusive a nível mundial, no plano da música clássica, da dança, da música folclórica, do teatro, da música popular, do cinema, como resultado da massificação da sua prática, incerta na própria estrutura educacional do país, Cuba passou a ser uma potência no esporte internacional, com vários títulos Mundiais e conquistando posição de primeira linha nas Olimpíadas,
"Esta noite muitas crianças dormiram nas ruas do Mundo.....NENHUMA DELAS É CUBANA."
Autor: Emir Sader.
Editora: Editora Moderna.
Gênero: Revolução Cubana.
Paginas: 103.
Ano; 1986.
Ernesto "Che" Guevara.
Como foi possível, numa pequena ilha situada a apenas alguns quilômetros da maior potência capitalista do mundo, surgir uma revolução que mudou o sentido da História da América Latina?
A resposta para esta e para outras questões está neste livro ágil direto e corajoso de Emir Sader, cientista político da Unicamp, que conheceu In Loco o novo país em que Cuba se transformou depois de 1959.
É possível falar de revolução cubana em dois sentidos: como processo de luta pela tomada do poder por Fidel Castro e os companheiros que com ele lutaram na oposição insurrecional ao regime do ditador Fulgencio Batista. Nessa acepção, foi um movimento guerrilheiro que capitalizou o descontentamento do povo contra as condições de miséria, corrupção, falta de liberdade e dependência em relação aos EUA, para instalar um governo revolucionário nos primeiros dias de 1959. Na segunda acepção, a revolução cubana de 1959 foi a continuidade das frustradas lutas de independência iniciadas na segunda metade do século passado e pode ser caracterizada efetivamente como uma revolução, não pelo fato de ter tomado o poder, mas por ter desenvolvido um processo de transformações, radicais das estruturas econômicas, sociais, políticas e ideológicas que fizeram de Cuba o primeiro país socialista da America Latina e do mundo ocidental.
Revolução, nesse sentido, é o conjunto de processos de mobilização, organização e luta do povo, em condições históricas concretas, contra o poder instituído, pela construção de um novo poder político que dirija as transformações radicais das estruturas dominantes na sociedade. Nesta acepção, a revolução cubana é um dos poucos exemplos neste continente que realmente merece o nome de revolução, qualquer que seja o juízo que se faça sobre o seu caráter. Ela não é apenas um produto histórico da mobilização popular, mas é o desenvolvimento de um programa de transformações democráticas, nacionais e socialistas que modificou substancialmente a sociedade cubana nas décadas transcorridas desde a fuga de Batista para o exterior e a instalação do poder revolucionário em Havana. As maiores dificuldades derivam do caráter polêmico do tema.
Talvez não exista questão mais contraditória na historiografia contemporânea que a revolução cubana. Entre a apologia e a satanização, parece não haver meio-termo possível. Entre os que ao visitar a Ilha, quase infalivelmente ficam “maravilhados” com a eliminação do analfabetismo, da prostituição, da descriminação racial, do desemprego, da violência, da miséria, e com a saúde e a educação gratuitas; e, por outro lado, os que execram radicalmente a “falta de liberdade e de democracia” no país, se divide praticamente toda a bibliografia existente.
Toda revolução é um processo heterodoxo. Nunca repete, nem na forma, os fenômenos similares dos processos que a antecederam. A revolução russa foi completamente diferente da frustrada tentativa da Comuna de Paris, a chinesa se diferenciou amplamente da russa, e a cubana, não repetiu a história das revoluções anteriores. À complexidade de apreensão do significado da revolução cubana se somou sua polêmica projeção para a America Latina, encarada como “modelo” a seguir ou “perigo” a evitar. Nem a revolução russa teve na Europa a repercussão que o triunfo de Fidel Castro e seus companheiros teve na America Latina. Isso contribui para a polarização radical na abordagem do fenômeno cubano, pelo próprio fato de que ele nos envolve a todos no continente, como atração ou repulsa, apontando “vias de superação da crise capitalista” ou assinalando caminhos a recusar “para preservar a democracia”. Tudo isso contribui para a complexidade na abordagem do tema. Fidel Castro afirmou certa vez que eles tinham “feito uma revolução maior que nos mesmos”. Talvez seja uma das poucas afirmações do líder cubano que adeptos e adversários estão dispostos a aceitar como verdadeiras.
No plano do combate á imoralidade reinante, além das expropriações feitas conforme lei de Confisco de Bens Malversados e dos processos penais correspondentes, atacou-se a enorme rede de Cassinos, ligada diretamente ás casas de prostituição e ao comércio de drogas que imperava livremente em Cuba. O país havia sido transformado pela máfia ianque em um antro de jogo para a burguesia norte-americana -especialmente a de Miami- e em bordel para marinheiros dos E.U.A, que reinava abertamente fazendo uso da violência e da proteção policial. Toda essa rede estava vinculada estreitamente aos mecanismos de corrupção do governo de Batista.
A revolução cubana tem portanto de ser compreendida como uma via especifica de solução aos problemas de miséria e ditadura produzidos pelo subdesenvolvimento na região do Caribe Latino-Americano.
O sistema político cubano recebe, o maior apoio popular ativo, que um regime conhece, mediante a mobilização maciça do povo nas grandes manifestações, nos trabalhos voluntários, nas missões de solidariedade internacionalista em outros países e em milhares de evidências cotidianas de um consenso popular inquestionável, que nenhum outro regime pode usufruir.
Esse consenso não e propriedade do povo cubano ele é resultado de um sistema que rompeu com o capitalismo porque sentiu que os problemas fundamentais dos homens não podem ser resolvidos conforme leis de mercado, da propriedade privada dos meios de produção, da oferta e procura, e amparados no capital especulativo e nos monopólios multinacionais. Foi assim que as questões da miséria, do desemprego, da crise habitacional, do analfabetismo, da prostituição, da mendigância, das drogas, da violência, da desnutrição, da discriminação racial, da saúde do povo encontraram sua resolução num sistema socialista, adequando ás condições particulares de um pequeno país caribenho, que orienta o seu regime pelas necessidades sociais da população e não segundo os vaivéns arbitrários das leis cegas do mercado capitalista.
Em outros campos, como o cultural e o esportivo, a revolução apresentou avanços que lhe reservam um lugar privilegiado em todo o terceiro mundo e inclusive a nível mundial, no plano da música clássica, da dança, da música folclórica, do teatro, da música popular, do cinema, como resultado da massificação da sua prática, incerta na própria estrutura educacional do país, Cuba passou a ser uma potência no esporte internacional, com vários títulos Mundiais e conquistando posição de primeira linha nas Olimpíadas,
"Esta noite muitas crianças dormiram nas ruas do Mundo.....NENHUMA DELAS É CUBANA."
Autor: Emir Sader.
Editora: Editora Moderna.
Gênero: Revolução Cubana.
Paginas: 103.
Ano; 1986.
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