Nas mais de trinta viagem a Guantánamo, Mahvish entrou inesperadamente em contato com os homens que Donald Rumsfeld chamou de "os piores dos piores".
Ela levava-lhes chai starbucks,a bebida disponível mais semelhante ao tipo de chá que eles beberiam em casa, e aqueles prisioneiros, rapidamente, se tornaram seus amigos, oferecendo-lhe conselhos paternais, assim como uma percepção pessoal única de sua luta e da família de cada um, a milhares de quilômetros. A medida que o tempo passava, Mahvish começou a se perguntar se Guantánamo realmente guardava os inimigos mais perigosos dos E.U.A, mas, independentemente da inocência ou culpa dos prisioneiros, ela estava determinada a preservar o direito mais fundamental deles: um julgamento justo. Sua história é um teste desafiador, bravo e essencial para mostrar quem ela é, e quem somos nós.
Trecho:
É fácil tratar mal alguma coisa chamada número 1154.
É fácil raspa-lhe a barba, chutá-lo para um lado e para outro como um objeto, cuspir nele ou fazê-lo chorar.
É mais difícil praticar tais abusos quando o 1154 tem identidade: Dr Ali Shah Mousovi, um pediatra que fugiu do Talibã, que trabalhou para as Nações Unidas e encorajava os afegãos a participar e votar na nova democracia. É mais difícil odiar o 1154 quando você percebe que ele é mais parecido com você do que diferente.
É fácil olhar listas de números. Há centenas deles.
Antes de me envolver com Guantánamo, não tinha nenhuma opinião sobre se os detentos ali eram culpados ou inocentes, apenas achava que todos mereciam uma audiência justa e o devido processo.
Mas depois que conheci alguns e conversei com eles, e depois que li seus prontuários, comecei crer que muitos, talvez até a maior parte, eram, como havia colocado Tom Wilner, homens inocentes que tinham sido preso por engano.
Fiquei realmente convencida quando soube das recompensas.
Muitos dos homens que conheci insistiam que haviam sido vendidos aos E.U.A, Durante a guerra pós 11 de Setembro, os militares dos E.U.A lançaram folhetos por todo o Afeganistão, prometendo entre US$ 5 mil e US$ 25 mil a qualquer pessoa que denunciasse membros do Talibã e da Al-Qaeda.
Considerando que a renda per capita no Afeganistão em 2006 era de US$ 300 anuais, ou US$ 0,82 centavos por dia, isso é como tirar a sorte grande. Sem dúvida, oferecer grandes somas como recompensa não viola qualquer leis internacionais. Mas quando o resultado acaba sendo a venda aleatória de centenas de homens para o cativeiro e depois a manutenção de presos sem os devidos processos, com base apenas em acusações inconsistentes, feitas por pessoas que se beneficiaram financeiramente, isso é, no mínimo, causa para preocupações- e para um novo exame de autos.
Quando os E.U.A começaram a bombardear, no final de 2001, milhares de afegãos fugiram para o país vizinho Paquistão. A polícia paquistanesa, guardas de fronteira e locais, todos ansiosos por meterem as mãos em grandes somas de dinheiro, capturaram centenas de homens. Era um grande negócio. O presidente paquistanês, Pervez Musharraf, até se vangloriou disso em sua memórias,
"Na linha de fogo" "Recebemos recompensas totalizando milhões de dólares", escreveu ele, admitindo que seus agentes entregaram pelo menos 369 homens aos militares dos E.U.A,em troca do '' Prêmio em dinheiro" da agência central de inteligência (CIA). Ao receber uma saraivada de críticas por suas afirmações publicadas, Musharraf recuou rapidamente. Edições subsequentes de seu livro descartaram essa menção aos 369 homens e ao dinheiro da CIA.
Título:Diário de Guantánamo.
Subtítulo: Os detentos e as histórias que eles me contaram.
Autor: Mahvish Rukhsana Khan.
Editora: LAROUSSE.
Gênero: Prisioneiros de Guerra.
Ano; 2008. Paginas: 318.
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