"Quem não interpreta o que lê, além de fazer alarde daquilo que julga ter assimilado, não entende o que diz."

Em Algum Lugar Do Paraíso.

"O Tempo não foi a única novidade trazida por Eva ao jardim do Paraíso. Foi ela que, dias depois, colheu o fruto proibido, que os tornou, de uma só mordida, sexuais e mortais. E foi depois de comer o fruto proibido, quando a terra entrou na sombra da noite e os dois se deitaram lado a lado, que Adão sentiu seu membro, que ele pensava que fosse só para fazer xixi, se mexer. E avisou à Eva: - melhor chegar para trás porque eu não sei até onde este negócio cresce."

Vivemos cercados pelas nossas alternativas, pelo que poderíamos ter sido, pelo medo do futuro, dar-se conta dessa fragilidade, e saber rir deliciosamente de tudo isso, só com Veríssimo. Aqui ele investiga momentos cruciais das nossas vidas, o começo e o fim do amor, o desgaste gerado pelo tempo, o acaso que pode fazer tudo ruir ou acontecer de forma surpreendente.
E se eu tivesse topado aquele emprego, completado aquele curso, chegado antes, chegado depois, dito não, dito sim...Veríssimo nos faz pensar sobre as escolhas, as decisões precipitadas, as que nunca foram tomadas-sempre com um olhar amoroso, bem-humorado, cúmplice de limitações demasiado humanas.
Feliz era Adão, sentencia, que vivia num eterno presente, num eterno domingo. O que vinha depois da passagem da sombra da noite não era o dia seguinte, era o mesmo dia, ou até o dia anterior, quem se importava? Adão, sozinho no paraíso, era um homem feliz porque era um homem sem datas.
                     
Das nossas fantasias sobre o primeiro homem até a angústia sobre a passagem incontornável do tempo, Veríssimo nos faz rir com seu humor refinado e uma tremenda elegância narrativa. É o paraíso: o talento de um dos mais respeitados escritores brasileiro em crônicas irresistíveis sobre o tempo, o amor, as oportunidades perdidas, e aquelas que talvez ainda possamos alcançar.

Autor: Luiz Fernando Veríssimo.
Editora:Objetiva.
Gênero: Crônicas.
Ano: 2011. Paginas: 195.

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