Para os israelenses, a obra é uma "barreira de segurança", que se destina a impedir a entrada de terroristas palestinos. Para os palestinos, trata-se de um "muro de separação", ou ainda um "muro de anexação": uma nova fronteira imposta pela força a fim de incorporar territórios palestinos, de modo que colônias localizadas ali se tornem aldeias de Israel, em uma irrecuperável expansão do território israelense, sem qualquer legitimidade internacional.
Para tratar de tema tão controverso e fundamental para o entendimento desta região complicada, o jornalista francês René Backmann realizou um amplo trabalho de pesquisa histórica, documental, cartográfica e jornalistica sobre a estrutura e o funcionamento complexos das sociedades palestinas e israelense. Entrevistou dirigentes políticos e militares envolvidos na concepção, construção e administração cotidiana do muro-barreira, assim como políticos locais, moradores e universitários israelenses e palestinos. O resultado é uma obra muito bem fundamentada e de escrita clara e envolvente, geradora de sérias reflexões sobre uma questão central: o muro na Palestina é uma barreira contra o terrorismo ou uma barreira contra a paz?
Barreira ou Muro? in loco, a escolha, ditada oficialmente por motivos técnicos, cabe ao exército. Através das palavras, ela revela mais uma vez visões diferentes, se não antagônicas. De acordo com os documentos oficiais israelenses, os militares e os responsáveis pela segurança, a obra em construção é uma 'barreira de segurança'. Para os palestinos. é um 'muro de anexação'. As organizações e israelenses que se opõem a sua construção (tal como tem sido decidida até hoje) falam de 'barreira de separação. Varias organizações palestinas a batizaram de 'muro do apartheid'.
Em seu parecer consultivo de julho de 2004, a Corte Internacional de Justiça das Nações Unidas decidiu usar a palavra 'muro' para designar todo o conjunto do muro -barreira.
"Por que dedicar um livro a essa iniciativa? porque, como tantos de meus amigos israelenses e palestinos, eu acreditei na paz quando da assinatura dos acordos de Oslo e pude testemunhar, com eles, o naufrágio do processo de paz, porque não consigo acreditar que aquilo que o mundo inteiro, ainda ontem, viu com alegria desmoronar em Berlim possa ser uma solução, amanhã, em Jerusalém".
René Backmann.
"O grande problema de muitos israelenses, inclusive do 'campo da paz', que apoiam as posições de Sharon é que nunca tentaram se colocar no lugar dos palestinos. No fundo, não estão dispostos a pagar o preço da paz, ou seja, ceder a terra, frente aos palestinos, que pagam esse preço com seu próprio sangue."
Menahem Klein.
"Nós temos dezenas de bombas atômicas, tanques, aviões. Enfrentamos pessoas desprovidas de todas estas armas. E no entanto nos mantemos mentalmente como vítimas. Essa incapacidade de nos enxergar como realmente somos na relação com o outro constitui nossa principal fraqueza,"
David Grossman.
"As autoridades israelenses, fazem uso ilegitimo de todos os meios legais e administrativos á sua disposição para aplicar sua política. Essa política constitui uma violação flagrante do direito internacional e dos princípios fundamentais da democracia, com graves consequências para os direitos humanos".
Eitan Felner.
"Um único objetivo orientou a política de planejamento urbano: reforçar o controle israelense sobre a cidade como um todo. O que se traduziu na criação de uma realidade demográfica e política que impede qualquer questionamento futuro da soberania israelense em Jerusalém Oriental. Ao mesmo tempo que lançavam programas de construção maciça e aplicavam um enorme orçamento nos bairros judeus de Jerusalém Oriental, as autoridades israelenses, estimulando os judeus a instalar neles, sufocavam, com seus atos e omissões, os programas voltados para a população palestina- considerada um 'perigo demográfico' que ameaçava o controle da cidade por Israel".
Eitan Felner.
Entre o fim da 'guerra dos seis dias", em junho de 1967, e a posse do governo Olmert, a 4 de maio de 2006. Israel construiu mais de 160 colônias na Cisjordânia, em Jerusalém Oriental e na faixa de Gaza. As 21 colônias de Gaza, onde viviam 8 mil pessoas, assim como quatro assentamentos isolados das cercanias de Jenin e Nablus, abrigando cerca de 600 colonos, foram evacuados em agosto e setembro de 2005. Em junho de 2006, o total de colonos instalados na Cisjordânia aproximava-se de 440 mil, dos quais 190 mil israelenses que povoavam as dez colônias "urbanas" de Jerusalém Oriental.* Em outra palavras, um sexto dos israelenses vive numa colônia. Como deixar de ver, nesses dados, que a existência e o destino das colônias têm um peso decisivo nas decisões políticas dos dirigentes israelenses?
*Para o governo israelense, esse dez conjuntos residenciais construídos dentro dos limites da Grande Jerusalém e unilateralmente ampliados em 1967 constituem, como vimos, bairros da cidade. Do ponto de vista do direito internacional, esses "bairros", todos a leste da Linha Verde separando Israel da Cisjordânia ocupada, são colônias.
"Que querem os israelenses? Um sistema de apartheid disfarçado? É o que eles estão instaurando, ao construir estradas nas quais os palestinos não têm direito de circular!". troveja o ativo Saeb Erekat, deputado de Jericó pela fatah e principal negociador palestino. "Você conhece algum outro lugar no mundo que tenha malhas rodoviárias distintas no mesmo território, para dois povos?"
"Os Estados Unidos não mudaram suas alianças. Israel continua sendo seu parceiro privilegiado"
Akram Haniyeh.
Sobre o Autor: René Backmann é colunista de assuntos internacionais na revista francesa Le Nouvel Observateur. Jornalista veterano com quais de quarenta anos de carreira, passou 25 anos cobrindo o Oriente Médio e, em 1991, foi vencedor do Prêmio Mumm, o de maior prestigio na França para jornalismo, por sua investigação sobre o sistema financeiro do Islã Fundamentalista. É coautor, com Rony Brauman, do livro Les Médias et I'Humanitaire: 1996.
Autor: René Backmann.
Editora: Record.
Gênero; Conflito Árabes-israelense
Ano; 2006. Páginas; 247.
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