"Quem não interpreta o que lê, além de fazer alarde daquilo que julga ter assimilado, não entende o que diz."

O Anticristo. F. Nietzsche.

             Um ferino ataque ao cristianismo.

Este ensaio é uma das mais afiadas análises de que o cristianismo já foi objeto. Dando continuidade ao exame sobre a moral praticado na maioria de seus livros, em O Anticristo o autor afirma sua posição sobre a doutrina religiosa. Ele mostra como o cristianismo- ao qual chama de maldição -é a vitória dos fracos, doentes e rancorosos sobre os fortes, orgulhosos e saudáveis, persuadindo e induzindo a massa por meio de ideias pré-fabricadas.
A partir da comparação com outras religiões, Nietzsche critica com veemência a mudança de foco que o cristianismo opera, uma vez que o centro da vida passa a ser o além e não o mundo presente. Até mesmo Jesus Cristo e o apóstolo Paulo são questionados, assim como a maior parte dos dogmas cristãos, em u grande exercício filosófico.

Redigido em 1888, último ano lúcido de vida de Nietzsche,   O anticristo  foi publicado apenas em 1895. Na primeira edição e em varias que se seguiram, a obra padeceu de incorreções no título, omissões e "melhoramentos" introduzidos pelos editores.
Tais desfigurações tiveram quase sempre o proposito de aparar alguma aresta cortante e, de um modo mais ou menos desastrado, abrandar o tom agressivo e combativo do texto. Foi assim, por exemplo, que o subtítulo ("Maldição contra o cristianismo"), um adjetivo para qualificar Jesus ("idiota") e outro para aludir ironicamente ao imperador Guilherme II foram deixados de fora. Apenas co a edição de Karl Schlechta, publicada em 1956, tais "problemas"foram sanados.
Essas omissões, porém nada ou pouco afetaram o caráter essencial da obra,ua das mais afiadas análises de que o cristianismo já foi objeto.Nas palavras de Franz Overbeck em carta de 13 de março de 1889 a Peter Gast, ambos amigos de Nietzsche, no Anticristo o cristianismo é tratado como "Márcias o foi por Apolo"- ou seja, ele é esfolado vivo....Despido de seus mantos, enfeites e até de sua pele, a religião cristã aparece coo aquilo que, na opinião do filosofo, realmente é: a vitória da rebelião dos fracos, doentes e rancorosos contra os fortes, orgulhosos e saudáveis. No mesmo espírito dos assim chamados moralistas franceses - "Nossas virtudes, muitas vezes, não são mais que vícios disfarçados", afirma La Rochfoucald.
Nietzsche entende que o cristianismo não fez mais que caluniar e rebaixar este mundo ao colocar o centro da vida para outro mundo, para o além. Tais valores negadores da vida e do mundo."

No cristianismo, nem a moral nem a religião possuem qualquer ponto de contato com a realidade. Apenas causas imaginárias ("Deus", "Alma", "Eu", "Espirito", "o Livre -arbítrio"-ou também o "não livre");apenas afeitos imaginários ("pecado", "salvação", "graça","castigo","perdão dos pecados").
Uma relação entre criaturas imaginárias ("Deus", "espirito","almas"); uma ciência natural imaginária (antropocêntrica; carência completa da noção de causas naturais); uma psicologia imaginária (apenas mal-entendidos acerca de si mesmo, interpretações  de sensações gerais agradáveis ou desagradáveis, por exemplo, dos estados do nervus sympathicus, com a ajuda da linguagem de sinais da idiossincrasia moral-religiosa- ("arrependimento", "remorso", "tentação do demônio" , "proximidade de Deus");uma teleologia imaginária ("o reino de Deus", "o juízo final", "a vida eterna").- Esse puro mundo de ficções se distingue muito a seu desfavor do mundo dos sonhos pelo fato de que este reflete a realidade, enquanto ele a falsifica, desvaloriza, nega. Somente depois que o conceito de 'natureza" foi inventado como conceito oposto a "Deus" é que "natural" teve de ser a palavra para "reprovável" - todo esse mundo de ficções tem suas raízes no ódio contra o natural (a realidade), ele é a expressão de um profundo mal-estar com o real...Mas assim tudo se explica. Quem é o único a possuir razões para se esquivar mentirosamente da realidade? Quem sofre por sua causa. Contudo, sofrer por causa da realidade significa ser uma realidade malograda...A preponderância das sensações de desprazer sobre as de prazer é a causa dessa moral e dessa fictícias: mas semelhante preponderância dá fórmula para a décadence.....

"Cristianismo, entendido como a arte de mentir santamente."

"A moral é o melhor meio de ludibriar a humanidade."

O homem de fé, o "crente" de qualquer espécie, é necessariamente um homem dependente-alguém
que não pode colocar a si mesmo como fim.que não pode absolutamente colocar fins a partir de si mesmo, O "crente' não pertence a si mesmo, pode ser apenas meio, precisa ser consumido, precisa
de alguém que o consuma. Seu instinto confere a honra suprema a uma moral da autorrenúncia, sua vaidade. Toda espécie de fé é uma expressão de autorrenúncia, de alienação de si mesmo...
O crente não é livre para ter uma consciência acerca do "verdadeiro"e do "falso": ser honesto nesse ponto seria a sua ruína imediata. A limitação patológica de sua ótica transforma os convictos em fanáticos. Os fanáticos são pitorescos, a humanidade prefere ver gestos a ouvir razões.

"Para que Deus deu a revelação ao homem? Teria Deus feito algo supérfluo? O homem é capaz de saber por si mesmo o que é bom e o que é mau, por isso Deus lhe ensinou a sua vontade?"

"O homem de fé, o "crente" de qualquer espécie, é necessariamente um homem dependente - alguém que não pode colocar a si mesmo como fim, que não pode absolutamente colocar fins a partir de si mesmo. O "crente"não pertence a si mesmo, pode ser apenas meio, precisa ser consumido, precisa de alguém que o consuma. Seu instinto confere a honra suprema a uma moral da autorrenúncia; tudo o persuade a ela, sua astúcia, sua experiência, sua vaidade. Toda espécie de fé é uma expressão de autorrenúncia, de alienação de si mesmo...."

"Os fanáticos são pitorescos, a humanidade prefere ver gestos a ouvir razões."
Nietzsche.

                                             Lei contra o cristianismo:
Promulgada no dia da salvação, dia primeiro do ano 1 (30 de setembro de 1888 da equivocada contagem de tempo)
Guerra de morte contra o vício: vício é o cristianismo.

Artigo primeiro; Viciosa é toda espécie de antinatureza. A mais viciosa especie de homem é o sacerdote: ele ensina a antinatureza. Contra o sacerdote não se tem razões, tem-se a prisão.

Artigo segundo; Toda participação em ofício religiosos é um atentado à moralidade pública. Deve-se ser mais duro com os protestantes do que com os católicos, mais duro com os protestantes liberais do que com o ortodoxos. O que há de criminoso no fato de ser cristão aumenta à medida que alguém se aproxima da ciência. O criminoso dos criminosos, portanto é o filosofo.

Artigo terceiro: O lugar maldito em que o cristianismo chocou seus ovos de basilisco deve ser arrasado e, coo lugar infame da terra, será o terror de toda a posteridade. Nele deverão ser criadas serpentes venenosas.

Artigo quarto: A pregação da castidade é uma incitação pública á amtinatureza. todo desprezo da vida sexual, toda impurificação da mesma mediante o conceito de "impuro" é o verdadeiro pecado contra o espírito santo da vida.

Artigo quinto; Sentar á messa com um sacerdote leva à expulsão: com isso um pessoa se excomunga da sociedade honesta. O sacerdote é o nosso chandala-ele deve ser proscrito condenado a fome, enxotado para toda espécie de deserto.

Artigo sexto; A história "sagrada" deve ser chamada pelo nome que merece, o de história maldita; as palavras "Deus", "Salvador", "Redentor", "Santo" devem ser usadas como insultos, como distintivos para os criminosos.

Artigo sétimo: O resto segue-se daí.
                                                                                                O anticristo.

Friedrich Nietzsche (1844-1900), filosofo alemão, estudou filologia e, por breve período, teologia. Entre sua obras se destacam Além do bem e do mal, Ecce homo, Crepúsculo dos ídolos e assim falou Zaratustra. 

Autor: Friedrich Nietzsche.
Editora; L&P POCKET.
Gênero: Filosofia Alemã.
Ano;2012. Paginas; 127.

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