Drauzio Varella começou seu trabalho como voluntário na Casa de Detenção de São Paulo, o Carandiru, em 1989.
Frutos dessa vivência são os Livros Estação Carandiru e Carcereiros, que reúnem a história e as histórias da prisão, dos detentos e de seus funcionários. Depois da implosão da cadeia, o médico passou a atender na Penitenciária Feminina da Capital, abrigando mais de duas mil encarceradas.
Com o olhar humano e a simplicidade que se tornaram marca registrada de seus textos, o autor alça essas mulheres a protagonistas em Prisioneiras, último volume da trilogia sobre o sistema carcerário brasileiro.
São narrativas de mães, irmãs e filhas que não raro entram para o crime por conta de seus parceiros, mas são esquecidas quando estão atrás das grades, cena raríssima nos presídios masculinos.
Diferentes também são a dinâmica das consultas, a forma com que o amor e a sexualidade são encarados pelas detentas e a hierarquia que se estabelece na prisão. Em seus escritos, o médico dedica atenção especial às particularidades dos ambientes carcerários femininos, revelando que a realidade das cadeias escapa ao imaginário de quem vive fora delas.
Prisioneiras é um relato franco, sem julgamento morais, que não perde o senso crítico em relação às mazelas de nossa sociedade.
Neste encerramento de ciclo, Drauzio reafirma seu talento de escritor do cotidiano ao retratar a sua experiência e a vida de inúmeras mulheres com a mesma disposição, coragem e sensibilidade que empreendeu quando decidiu exercer a medicina também nas prisões, há quase trinta anos.
A frase mais bonita que alguém pode ouvir numa cadeia é "Deus abençoe o senhor".
Não há dia de atendimento em que eu não tenha o gosto de ouvi-la. A prática atenciosa da medicina tem o dom de desarmar espíritos atormentados e evocar a gratidão naqueles a quem se destina, sejam cidadãos ordeiros ou assassinos impiedosos.
Em quase trinta anos atendendo doentes em cadeias, jamais ouvi um desaforo, uma palavra áspera, uma reivindicação mal-educada. À vezes, fica difícil acreditar que pessoas tão respeitosas com o médico tenham cometido os crimes que constam de seus prontuários. Profissão caprichosa a medicina, capaz de criar seus empatia mútua entre dois estralhos em questão de minutos.
Impossível imaginar como eu chegaria aos 73 anos se não fosse a experiência nos presídios, mas sei que saberia menos medicina e desconheceria aspectos da alma humana aos quais só tive acesso porque me dispus a chegar perto daqueles que a sociedade tranca atrás de grades.
Trilogia:
https://marcelotodeschini.blogspot.com.br/2009/08/estacao-carandiru.html
https://marcelotodeschini.blogspot.com.br/2018/02/carcereiros.html
Autor: Drauzio Varella.
Editora: Companhia Das Letras
Gênero: Problemas sociais.
Paginas: 277. Ano: 2017.
Frutos dessa vivência são os Livros Estação Carandiru e Carcereiros, que reúnem a história e as histórias da prisão, dos detentos e de seus funcionários. Depois da implosão da cadeia, o médico passou a atender na Penitenciária Feminina da Capital, abrigando mais de duas mil encarceradas.
Com o olhar humano e a simplicidade que se tornaram marca registrada de seus textos, o autor alça essas mulheres a protagonistas em Prisioneiras, último volume da trilogia sobre o sistema carcerário brasileiro.
São narrativas de mães, irmãs e filhas que não raro entram para o crime por conta de seus parceiros, mas são esquecidas quando estão atrás das grades, cena raríssima nos presídios masculinos.
Diferentes também são a dinâmica das consultas, a forma com que o amor e a sexualidade são encarados pelas detentas e a hierarquia que se estabelece na prisão. Em seus escritos, o médico dedica atenção especial às particularidades dos ambientes carcerários femininos, revelando que a realidade das cadeias escapa ao imaginário de quem vive fora delas.
Prisioneiras é um relato franco, sem julgamento morais, que não perde o senso crítico em relação às mazelas de nossa sociedade.
Neste encerramento de ciclo, Drauzio reafirma seu talento de escritor do cotidiano ao retratar a sua experiência e a vida de inúmeras mulheres com a mesma disposição, coragem e sensibilidade que empreendeu quando decidiu exercer a medicina também nas prisões, há quase trinta anos.
A frase mais bonita que alguém pode ouvir numa cadeia é "Deus abençoe o senhor".
Não há dia de atendimento em que eu não tenha o gosto de ouvi-la. A prática atenciosa da medicina tem o dom de desarmar espíritos atormentados e evocar a gratidão naqueles a quem se destina, sejam cidadãos ordeiros ou assassinos impiedosos.
Em quase trinta anos atendendo doentes em cadeias, jamais ouvi um desaforo, uma palavra áspera, uma reivindicação mal-educada. À vezes, fica difícil acreditar que pessoas tão respeitosas com o médico tenham cometido os crimes que constam de seus prontuários. Profissão caprichosa a medicina, capaz de criar seus empatia mútua entre dois estralhos em questão de minutos.
Impossível imaginar como eu chegaria aos 73 anos se não fosse a experiência nos presídios, mas sei que saberia menos medicina e desconheceria aspectos da alma humana aos quais só tive acesso porque me dispus a chegar perto daqueles que a sociedade tranca atrás de grades.
Trilogia:
https://marcelotodeschini.blogspot.com.br/2009/08/estacao-carandiru.html
https://marcelotodeschini.blogspot.com.br/2018/02/carcereiros.html
Autor: Drauzio Varella.
Editora: Companhia Das Letras
Gênero: Problemas sociais.
Paginas: 277. Ano: 2017.
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